O tempo elástico e a imagem modulável foram destaque na palestra de Philippe Dubois

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Por: Debb Cabral

Foto: Valério Silveira

Foi grande o número de pessoas que compareceram ontem (06) ao cine-teatro do CCBEU, para a segunda palestra da programação da sexta edição do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia. “De Etienne-Jules Marey a David Claerbout, ou como o tempo fotográfico jamais deixou de ser assombrado pelo trabalho do movimento da imagem” foi ministrada por Philippe Dubois, um dos principais pesquisadores no campo da estética da imagem. A tradução consecutiva foi realizada por Camila Fialho, da Assosiação Fotoativa.

Dubois, que estava muito animado e bem-humorado, explicou que seu objetivo era mostrar, a partir de um nome muito conhecido na história da fotografia (Etienne-Jules Marey) e um fotografo contemporâneo que trabalha com fotografia digital (David Claerbout), de que maneira “todas as imagens vão ter uma relação com a questão do tempo e do movimento como uma constante que as assombra dentro da fotografia. A proposta é inscrever esse debate dentro da temática Tempo Movimento, do Diário Contemporâneo desse ano”, disse.

O médico fisiologista Etienne-Jules Marey era fascinado pelo estudo do movimento e usou principalmente a técnica da cronofotografia para realizar suas pesquisas.

Marey se valia de pequenos intervalos entre os disparos fotográficos para realizar várias tomadas, o resultado era uma fotografia animada. “Ele vai se aproveitar da fotografia para fazer sua transcrição dos movimentos corporais”, contou Dubois.

Ele também mostrou como o instantâneo consagrou a fotografia à imobilização do movimento, o que, em suas palavras, “é uma cegueira”, pois a natureza da fotografia não exclui o movimento. Ainda dentro do trabalho de Marey, Dubois observou que “ele não queria uma regularidade do movimento como os irmãos Lumière, ele queria ver a aceleração e a velocidade mais lenta. Era a decomposição do movimento pelo movimento”.

Foto: Valério Silveira

Etienne-Jules Marey é visto por muitos como um dos pioneiros na história do cinema, mas sua fotografia tinha algo que não cabia definir, pois seria limita-la. “É um estado intermediário da imagem, um estado único, que se encontra entre a fotografia (imagem fixa) e o cinema (movimento aparente)”, acrescentou Dubois.

Chegando à contemporaneidade, dos anos 2.000 para cá se viu que a definição da fotografia como o congelamento do instante não é mais sustentável. Isso pode ser bem observado no trabalho do fotografo David Claerbout que também exibe esse ponto de encontro entre a fotografia e o filme. “Não tem mais essa ideia de exclusão, mas uma ideia de variação contínua entre um e outro. É a elasticidade da imagem. O instante não é mais o contrário da duração e hoje os artistas usam essas variações de velocidade como Marey já fazia, muito antes, em seu tempo”, observou Dubois.

Foto: Valério Silveira

Ao final, ele destacou, ao falar dessa imagem elástica e modulável diversos artistas, inclusive a paraense premiada nesse ano no Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, Marise Maues, com seu trabalho “Loess”.

Criado em 2010, o Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia é um projeto nacional que incentiva a cultura, a arte e a linguagem fotográfica em toda a sua diversidade.

As mostras “Tempo Movimento”, com trabalhos dos artistas premiados, selecionados e participações especiais, no Espaço Cultural Casa das 11 Janelas; e “Diante das cidades, sob o signo do tempo”, de Jorane Castro, artista convidada desta edição, no MUFPA;  seguem com visitação aberta até o dia 28 de junho de 2015. A entrada é franca.

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