Carta aberta à população, em especial aos artistas, estudantes, professores e pesquisadores em arte de Belém

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O Espaço Cultural Casa das Onze Janelas e o projeto Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia vêm manifestar o seu repúdio ao episódio ocorrido no Laboratório das Artes durante a abertura da mostra de selecionados e premiados da V Edição do Diário Contemporâneo no dia 22 de abril do corrente ano.

Seis estudantes do curso de Artes Visuais da Universidade Federal do Pará, que não representam o todo do curso e seus professores, arremessaram restos de comida na obra de uma artista selecionada para a mostra do referido projeto, no Laboratório das Artes, na tentativa clara de danificá-la. Em seguida, o grupo encaminhou-se para outro espaço do Museu onde se localizava o trabalho de outro artista também selecionado para mostra. Nesse momento o grupo foi interceptado por uma artista que se encontrava no local que, ao observar indignada o acontecido, decidiu questionar o ato cometido contra o trabalho artístico. Sem explicações e justificativas plausíveis o grupo interrompeu a continuidade do ato diante da informação de que câmeras de vídeo registravam os espaços expositivos.

Depois de analisar as imagens gravadas, a Casa das Onze Janelas, pertencente ao Sistema Integrado dos Museus e Memoriais da Secretaria de Cultura do Estado – como instituição pública, dedicada à produção contemporânea no Brasil e no Estado do Pará, e referência no norte do Brasil como espaço vivo para exposições e projetos no campo da arte – não admite comportamentos como os efetuados por tais estudantes, atitudes consideradas nocivas ao livre debate e à pesquisa em arte.

Como projeto artístico, o Prêmio Diário Contemporâneo de fotografia abrange mostras, oficinas, palestras, publicações e ações educativas em torno da produção no campo da fotografia, promovendo o intercâmbio entre a produção local e a fotografia brasileira produzida pelos jovens artistas. Como iniciativa privada, o projeto só é possível de ser realizado com as parcerias institucionais públicas como o Museu da Universidade Federal do Pará, a Casa das Onze Janelas e o Instituto de Artes do Pará.
O Diário Contemporâneo também não tolera o ato cometido pelos estudantes por entendê-lo, primeiramente, vergonhoso por se tratar de um ataque de artistas/estudantes de arte ao trabalho de outro artista. No mínimo, é constrangedor perceber a falta absoluta de razão e de inteligência por parte dos ofensores ao trabalho de um colega.

Em segundo lugar, tal ato fere princípios básicos no que se refere à compreensão do que seja arte como conhecimento e discussão crítica. Faltam nesses estudantes de arte o entendimento mais profundo e complexo sobre os campos do conhecimento sobre história da arte, sistema da arte, aprendizado da arte, crítica da arte, teoria da arte e filosofia da arte.

Fica a impressão que tais alunos não reconhecem o aspecto mais básico do lugar que eles ocupam em um sistema de conhecimento. Ocupar uma vaga em uma Universidade Federal no Brasil, país de grande miséria social, é ocupar uma voz ativa. É, principalmente, ocupar um lugar de poder. Mais importante que recusar o poder é conhecer as suas armadilhas e saber utilizá-lo de forma inteligente e crítica.

O ataque à obra da artista é um ataque ao trabalho de profissionais que buscam desenvolver a formação em arte em diálogo com todas as formas possíveis de prática da arte, seja no espaço das galerias e museus, assim como nos espaços públicos e, especialmente, refletindo abertamente sobre todas as materialidades possíveis incorporadas, absorvidas e reativadas pelo artista contemporâneo.

Exige-se, fundamentalmente, capacidade poética e consequência nos atos praticados em favor da arte. Macular a delicadeza de uma obra é um péssimo caminho rumo à impossibilidade de fala e escuta do Outro. Atacar a obra de um artista com restos de comida é definitivamente um ato autoritário. Será necessário chamar a inteligência de volta para reconquistar o respeito de sua comunidade e de seus pares no processo de discussão crítica que queremos e precisamos manter na cidade de Belém.

Armando Queiroz – Diretor da Casa das Onze Janelas

Mariano Klautau Filho – Curador do projeto Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia

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