Imagens e memória por todos os sentidos

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Video arte “Chippendale” (Coletivo Cêsbixo)

Visitar a mostra principal “Memórias da Imagem” da 3ª edição do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia é o mesmo que fazer uma viagem, deixando-se levar por nossos vários sentidos. Tato, audição, visão e até mesmo o olfato, caso resolva-se ir até a Casa das Onze Janelas, naquele horário após a chuva de Belém, quando o cheiro de umidade sobe no ar, mediado pelo calor típico das tardes amazônicas, à beira do rio, onde o Espaço Cultural, parte do Complexo Feliz Lusitânia, fica situado, em plena Cidade Velha. Ou o Paladar. Ao ver o vídeo arte “Chippendale”, entre outras sensações, ele pode nos trazer à memória, o gosto das frutas que são degustadas pelo personagem criado pelo do Cêsbixo.

A obra é considerada um vídeo, no que concerne seu suporte, mas a linguagem busca evidenciar limites mais fluidos no que diz respeito entre semelhanças e diferenças de linguagem fotográfica, de vídeo-arte ou cinema. “Temos a alegoria de um personagem que interage com seu espaço de vivência e sua interação é uma alegoria do seu viver, do seu fazer artístico, de produzir representação, imbricado com o viver artístico, apenas se relacionando com a representação de mundo que a imagem possibilita”, explicam os integrantes da obra.

“Já não consumimos coisas, mas somente signos”. A partir desta afirmação de Baudrilard o grupo tem como o ponto de partida do personagem “Chippendale”, o emaranhado de signos que é apresentado, a vivência e a confluência entre ele, suas ações e sua própria relação com os objetos em cena.  O próprio nome do personagem advém do sobrenome de um designer que concebeu um estilo de mobiliário tão popular no século XIX e início do século XX, uma época evidente da crise da representação, das novas percepções de mundo, a gênese da problemática pós-moderna.

Vários sentidos – Na Casa das Onze Janelas, a visita pode demorar até duas horas, passando pelos três espaços muito bem montados e ocupados pelas obras dos 23 artistas entre os premiados e selecionados pelo Prêmio. É um convite para se perder vendo cada trabalho, os videos, ouvindo textos ou músicas e lendo cartas ligadas às imagens, por exemplo, da obra “O apanhador de memórias”, por exemplo, de Wagner Okasaki.

O artista apresenta imagens, próprias e apropriadas, obtidas a partir de negativos ou de diapositivos digitalizados em aparato artesanal-caseiro (apelidado de “apanhador de memórias”), composto por uma câmera digital compacta, uma luminária de teto invertida e algumas embalagens recicladas (vide projeto de montagem).

Como a fonte de luz é constituída de uma lâmpada fluorescente branca, as fotos resultantes apresentam uma certa distorção de cores. Essas cores “erradas” evocam a mesma atmosfera onírica presente em seus devaneios nostálgicos. Cada imagem ou série de imagens está acompanhada de um depoimento manuscrito dos personagens envolvidos. E durante a exposição, o próprio apanhador de memórias está instalado e disponível para digitalização de negativos/slides dos visitantes. O trabalho é fantástico, pois cada manuscrito vai trazendo identificação com os visitantes. As imagens em si talvez não causassem tanto impacto sem a palavra escrita.

Ouvindo – Há ainda a instalação de Milla Jung, País Imaginário, uma proposição da artista sobre a potência das imagens contemporâneas no campo da arte. Partindo da pergunta de como se apreende uma fotografia, a artista cria um território para o espectador experimentar o sem-fim de possibilidades sobre a escuta das imagens. Uma fotografia que é acordada por uma narrativa que por sua vez também acorda novas imagens, numa via de mão única onde a experiência primeira se perde em nome do multiplicável. Com tudo isso e muito mais, o público que visita a mostra Memórias da Imagem acaba refletindo. Afinal, o que nos traz imagens à memória não são necessariamente as fotografias, pois os sons, as sensações de cheiros e sabor são fatores e sentidos que nos ativam, e muito, a memória. A imagem é ou pode ser mera ilusão.

As obras citadas neste texto ocupam a sala maior da Casa das Onze Janelas, que recebe o nome de Valdir Sarubbi, artista paraense não menos conhecido por sua obra de memória amazônica, e onde está a maioria das obras selecionadas pelo prêmio.  Ainda há muito o que ver também na sala Gratuliano Bibas, que traz a vídeo instalação “Banco de Tempo”, de Isabel Löfgren & Patricia Gouvêa, a instalação “S/T”, de Roberta Dabdab e a o vídeo  “Vazios”, de Alberto Bitar. Na sala “Laboratório”, você confere o trabalho Mikvot, de Marian Starosta.

Este ano, o Prêmio reúne obras de 3 artistas premiados e mais 20 selecionados. A Mostra memórias da Imagem abriu no dia 28 de março, na Casa das Onze Janelas, e no dia seguinte, 29, inaugurou a exposição “Pra te de onde se ir”, do artista convidado Miguel Chikaoka, no Museu da UFPA. A realização do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia é do Jornal Diário do Pará. Patrocínio da Vale e Governo do Estado. Apoio Espaço Cultural Casa das Onze Janelas – SIM /Secult-PA, Museu da UFPA, Sol Informática e Instituto de Artes do Pará.  Informações: (91) 3184-9327 / (91) 8128-7527. www.diariocontemporaneo.com.br / imprensa@diarioconteporaneo.com.br / Twitter: @premiodiario

MAIS AÇÕES – O III Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia continua com a Mostra “Pra Ter de Onde se Ir”, de Miguel Chikaoka, abertas até dia 27 de maio, no Museu da UFPA, com entrada franca. Informações sobre o agendamento de turmas escolares para visitação podem ser obtidas pelo telefone 91 4009.8855 (Casa das Onze Janelas) e, para o Museu da Ufpa, pelo Tel: 91 3224 – 0871. Em maio, além da oficina “Ensaio – Resumindo Uma Ideia”, com o fotógrafo Octavio Cardoso, que acontecerá de 14 a 24 de maio, no Instituto de Artes do Pará, cujas inscrições ficam abertas até dia 10 de maio.

No dia 17 de maio, a palestra Imagem, Realidade e Fabulação – A Reinvenção da Memória na Vila de Lapinha da Serra, com o fotógrafo e pesquisador Alexandre Sequeira.

O artista fará um relato de uma ação artística desenvolvida no pequeno vilarejo de Lapinha da Serra, no interior de Minas Gerais, com objetivo de refletir sobre a relação do homem com a imagem fotográfica, enquanto importante elemento de elaboração de um sentido de memória. Esta ação acontecerá no dia 17 de maio, às 19h, no Instituto de Artes do Pará, também com entrada franca.

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