Tempo implacável, memória viva

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Imagem do projeto Morar, do Coletivo Garapa, Prêmio Memórias da Imagem.

O Coletivo Garapa é um espaço de criação que tem como objetivo pensar e produzir narrativas audiovisuais, integrando diversos formatos e linguagens. Atua em parceria com clientes comerciais além de desenvolver um trabalho de pesquisa autoral, sempre explorando as potencialidades de cada projeto, tanto na construção da narrativa quanto nos modelos de distribuição.

Formado por Paulo Fehlauer, Leo Caobelli e Rodrigo Marcondes, o grupo participa do III Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia com a obra Morar (Prêmio Memórias da Imagem), projeto que busca criar um arco de memória entre a existência e a desaparição dos edifícios São Vito e Mercúrio, emblemáticas construções demolidas recentemente na cidade de São Paulo. Trata-se de um ensaio visual sobre os prédios, objeto de pesquisa desenvolvido pelo Coletivo desde meados de 2008.

Desde então, acompanhamos o desenrolar das suas histórias, da desocupação à demolição. Para o Prêmio Diário, trouxemos uma obra que, de certa forma, resume a dinâmica da metrópole, que, na ânsia do progresso, se reescreve a cada instante. Em oito quadros, vamos da presença ao desaparecimento dos edifícios, percorrendo dois anos de uma história que se apaga apenas da paisagem, mas nunca da memória”, explica Paulo Fehlauer, que está em Belém para a abertura da mostra Memórias da Imagem, que acontecerá na Casa das Onze Janelas, no dia 28 de março.

De acordo com ele, tais memórias ora se encaixam em harmonia, ora se chocam produzindo uma infinitude de interpretações. “O políptico que apresentamos aqui, busca sintetizar um universo bem maior de imagens. Acreditamos que o desaparecimento do prédio seja a memória viva da cidade que se transforma e passa por cima de histórias privadas em nome da transformação e do progresso.”

Na década de 1960, a expectativa de vida de um paulistano era, ao nascer, de aproximadamente 65 anos. Nem o São Vito, nem o Mercúrio corresponderam a essa estatística. “Na ansiedade do progresso, a metrópole busca se reconstruir o tempo todo, transformando a cidade em um imenso palimpsesto, ‘memória viva de um passado já morto’. Apagados os edifícios, a paisagem, testemunha das tensões humanas, se ressignifica. O tempo da metrópole é implacável; resta a memória”, explica.

Para Paulo Fehlauer, a característica mais marcante da fotografia contemporânea passa um pouco pela própria dificuldade de nominá-la ou restringi-la a campos específicos. Por isso ele diz que nos projetos do coletivo, busca-se sempre trabalhar o diálogo da fotografia com outras linguagens, como o vídeo e a literatura. “Estamos interessados nesse hibridismo que expande o campo fotográfico”, reforça.

Grupo que desenvolve projetos para ambientes distintos – da fotografia estática à interação multiplataforma, do vídeo à instalação site specific; produz e dirige filmes documentários e publicitários; desenvolve plataformas multimídia, ensaios fotográficos e exposições, o Coletivo Garapa já possui uma relação próxima com o Pará, onde já teve oportunidade de realizar atividades como a oficina Experiência Multimídia, em 2010, e de participar do projeto Curta em Circuito, em 2011.

“Antes disso, já conhecíamos e admirávamos alguns dos grandes nomes da fotografia paraense, como Luiz Braga, Alexandre Sequeira e Miguel Chikaoka, mas esse universo se expandiu muito a partir do contato direto com os fotógrafos e artistas locais. Hoje, mais do que contatos, temos muitos amigos no Pará”.

De acordo com ele, prêmios como o Diário Contemporâneo são importantes na carreira de qualquer criador por representar o reconhecimento de pesquisas estéticas e temáticas de cada participante. “Além disso, são ótimas oportunidades para se acompanhar a produção do país”, finaliza.

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