RETROSPECTIVA – 2014: A liberdade da poética

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A cada edição, o Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia propunha temáticas, levantando questões especificas. Em 2014 isso mudou. A temática livre ou o não-tema foi a escolha. A abertura para que o artista levantasse suas reflexões e interrogações com a liberdade poética levou a um salto no número de inscrições: 518.

A fotografia veio então como um espaço de livre experimentação do artista no amplo território da fotografia, iniciando um novo ciclo do projeto.

Forca de Auschwitz. Foto: Michel Pinho, participante da Mostra Especial

O JÚRI

A comissão de seleção e premiação da 5ª edição foi composta por Rubens Fernandes Junior, pesquisador, curador e crítico de fotografia. Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, ele é professor e diretor da Faculdade de Comunicação da FAAP-SP.

Alexandre Santos, historiador, crítico de arte e curador independente também integrou a mesa. Ele é mestre e doutor em Artes Visuais pela UFRGS e professor associado no Departamento de Artes Visuais da mesma instituição.

O terceiro integrante foi Mariano Klautau Filho, fotógrafo e pesquisador em arte e curador do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia. Ele é doutor em Artes Visuais pela ECA-USP e professor do curso de Artes Visuais da UNAMA.

Os três ainda abriram a programação de palestras do projeto realizando, em parceria com a Associação Fotoativa, o Café Fotográfico “Fotografia: campos de expansão”. Na ocasião Alexandre Santos fez a fala “Fotografia e espreita: a noite nas imagens de Brassaï e Kohei Yoshiyuki” e Rubens Fernandes Junior, com “Ver e olhar. Olhar e imaginar”, refletiu que o ato de ver uma imagem não se encerra no contato com a fotografia. Mariano fez a mediação do encontro.

Alexandre Santos, Rubens Fernandes Junior e Mariano Klautau Filho no Café Fotográfico. Foto: Irene Almeida

ARTISTA CONVIDADO

Janduari Simões nasceu no interior da Bahia, mas seu acervo se constitui, em grande parte, com imagens sobre a cultura e o homem da Amazônia, sobretudo do Pará. Em “Cidade Invisível”, ele apresentou um questionamento sobre história, memória e patrimônio. Numa parte da exposição, em cores se viu um recorte pontual de sua sensibilidade sobre o espaço urbano e as mutações que ocorrem na arquitetura, com um olhar atento para a estrutura formal das moradias, e as semelhanças que anulam o limite entre centro e periferia.

Do outro lado, um trabalho tocante, que foi realizado final dos 70, época em que a quadra que abrigava a Fábrica Palmeira estava sendo destruída, e marcando, então, o nascimento de uma das maiores cicatrizes urbanas que Belém já produziu: o “Buraco da Palmeira”. O artista também teve a oportunidade de realizar um bate-papo com o público dentro do espaço da exposição e compartilhou mais do seu olhar sobre as mutações que ocorrem na cidade.

PREMIADOS E SELECIONADOS

Alberto Bitar (PA), Diego Bresani (DF) e Yukie Hori (SP) levaram os prêmios da edição.

Assim como Wagner Almeida, premiado na edição anterior, o paraense Alberto Bitar também tem a vivência do fotojornalismo e foi do olhar atento às rua que veio “Bank Blocks”, seu trabalho que levou o Prêmio Diário do Pará. Fachadas de bancos revestidas de tapumes como forma de se proteger dos protestos realizados nas ruas. Um questionamento sobre o vale ser protegido no capitalismo.

Vencedor do Prêmio Diário de Fotografia, Diego Bresani é fotógrafo e diretor de teatro. “Ao Lado”, sua série premiada, foi realizada nas fronteiras entre a fotografia e a encenação. Com apuro estético e de direção o artista registrou reencenações de flagrantes da vida cotidiana e de momentos na vida de pessoas desconhecidas, feitos pela janela do carro ao se deslocar pela cidade.

Yukie Hori ganhou na categoria Prêmio Diário Contemporâneo com “Dedicatórias”, uma série de cinco crônicas de três ou duas imagens, tomadas entre 2008  2013 em viagens ao Japão.

Da série “As Paisagens” de Felipe Bertarelli, selecionado em 2014

Além dos premiados, estiveram presentes na exposição as obras dos artistas selecionados Alex Oliveira (BA), Amanda Copstein (RS), Carol de Góes (RS), Daniel Moreira (MG), Fábio Del Re (RS), Felipe Bertarelli (SP), Francilins (MG),  Tom Lisboa (PR), Ionaldo Rodrigues (PA), Isabel Santana Terron (SP), Ivan Padovani (SP), Juliana Kase (SP), Juliano Menegaes Ventura (RS), Keyla Sobral (PA), Letícia Lampert (RS), Marcelo Martins de Figueiredo (MG), Marco A. F. e Eduardo Veras (RS), Marilsa Urban (PR), Marlos Bakker (SP), Nelton Pellenz (RS), Paula Huven (MG), Pedro Clash (SP), Péricles Mendes (BA), Rafael D’alò (RJ), Randolpho Lamonier (MG) e Victor Galvão (MG).

MOSTRA ESPECIAL

Pelo segundo ano, além da individual do artista convidado, o Museu da UFPA recebeu, também, uma coletiva que trouxe um recorte do que de novo está se produzindo na fotografia paraense. Veteranos e jovens fotógrafos apresentaram ao público seus mais recentes trabalhos. A mostra “Pequenas cartografias (e duas performances)” acentuou mais ainda a intenção do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia de valorizar e fomentar a cultura paraense. Participaram da exposição Marise Maués, Michel Pinho, Rodrigo José, Cinthya Marques, Marco Santos e Luciana Magno.

O workshop de Ana Mokarzel teve como público-alvo professores e educadores. Foto: Irene Almeida

AÇÕES

A fotógrafa paraense Ana Mokarzel, selecionada em 2013, abriu a programação formativa do projeto. No curso “Do visível ao invisível” ela compartilhou com os participantes noções básicas da fotografia em debates e saída fotográfica orientada.

O fotógrafo e professor de fotografia Fernando Schmitt realizou o workshop “A Fotografia no Limite do Tempo”, no qual visou a pesquisa e a prática experimental da fotografia com o objetivo de explorar suas relações com o tempo.

Adriele Silva realizou o minicurso “Olhar Vagabundo”, como parte da formação e seleção da equipe de mediadores culturais e a oficina “Olhar de Brinquedo”, com foco nos professores e educadores de diferentes disciplinas que atuam na educação básica. Além disso, o seminário “Olhos de Assombro” promoveu um debate entre o público e os mediadores sobre os assuntos apresentados nos resumos de ação destes, compartilhando o processo de trabalho da ação educativa da 5ª edição.

PALESTRA

Hoje (24), Isabel Gouvêa, que integra a comissão de seleção deste ano, realizará a palestra “Lutas criativas no campo da arte: As experiências da Bahia no Prêmio Pierre Verger e no Programa Kabum! de Arte e Tecnologia”. A programação será às 19h, no Museu da UFPA, com entrada será franca.

O PROJETO

Em 2019 o Diário Contemporâneo comemora uma década de atuação. Ele se tornou um dos grandes editais de competição do país, além de consolidar o Pará como um espaço de criação e reflexão em artes.

O Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia é uma realização do Jornal Diário do Pará com apoio institucional do Espaço Cultural Casa das Onze Janelas, do Sistema Integrado de Museus e do Museu da UFPA; colaboração da Sol Informática, parceria da Alubar e patrocínio da Vale.

RETROSPECTIVA – 2013: A humana natureza

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Pensar a natureza como algo vinculado ao homem foi o que o Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia fez em 2013. O tema “Homem Cultura Natureza” norteou a quarta edição do projeto a partir da ideia de natureza como linguagem e cultura.

Retrato e paisagem, dois estilos fotográficos, dois jeitos de atuar no espaço-tempo. Ao colocar a cultura no meio dos fluxos de diálogo, o projeto convidou os artistas a pensarem a imagem desde a ideia mais clássica de natureza até a presença instável do homem no mundo cultural. “Ao atuar sobre o mundo natural, interferir no seu ambiente e construir sentido, o homem produz cultura”, observou à época Mariano Klautau Filho, curador do projeto.

Welcome home, de Gui Mohallem, selecionado em 2013

O JURI

A comissão do 4º Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia foi formada pelo fotógrafo Luiz Braga, autodidata que começou a fotografar aos 11 anos. Formado em Arquitetura pela UFPA ele; que tem atenção especial em seus ensaios à cultura visual, a população e a paisagem amazônica; foi o artista convidado da segunda edição do projeto.

A comissão contou ainda com Maria Helena Bernardes, formada em Artes Plásticas pela UFRGS e especialista em Expressão Gráfica pela mesma instituição.  Professora de História e Teoria da Arte, a artista ainda realizou o minicurso “Participação da Narrativa e da imagem na arte contemporânea”, no qual apresentou um panorama da arte contemporânea com foco em artistas que “contam histórias” através de imagens. Ela também encontrou o público na palestra “Projeto Areal”, na qual compartilhou a pesquisa desenvolvida com André Severo.

O artista visual Armando Queiroz foi o terceiro integrante do júri. Ele atua como curador independente em exposições e projetos no Brasil. Sua produção artística aborda conceitualmente questões sociais, políticas e patrimoniais.

ARTISTA CONVIDADA

A viagem de Walda Marques a Cuba foi o recorte escolhido para a mostra no Museu da UFPA. O país, suas pessoas, cores e rotinas foram para a parede DO MUFPA e aquela que tinha sido uma viagem de lazer e turismo se mostrou como um convite para que o público adentrasse também naqueles lares acolhedores.

Nascida em Belém, Walda iniciou na fotografia em 1989, nas oficinas de Miguel Chikaoka, artista convidado na 3ª edição do Prêmio.  Ela trabalhou com maquiagem para teatro e televisão e, em 1992, fundou o estúdio W.O. Fotografia, em parceria com Octavio Cardoso, premiado na primeira edição do projeto.

“Românticos de Cuba” trouxe fotografias que mostravam as casas de uma Havana que a artista sentiu como sua. Arquitetura, objetos e memórias de um lugar que vive um tempo próprio.

“Os Lugares do Retrato – Uma conversa com Walda Marques” foi a oportunidade que o público teve de conversar com a artista sobre a sua trajetória e experimentações, com atenção especial à temática do retrato. Na ocasião, ela falou também sobre a série inédita escolhida para o Diário Contemporâneo.

Românticos de Cuba. Foto: Walda Marques

PREMIADOS E SELECIONADOS

Na quarta edição, entre os 310 inscritos, foram premiados os trabalhos de Wagner Almeida (PA), Daniela Alves e Rafael Adorjan (DF e RJ) e Emídio Contente (PA).

A série “Livrai-nos de todo o mal”, de Wagner Almeida, fotojornalista do Diário do Pará, levou o Prêmio Homem Cultura Natureza. Dentro da realidade violenta da cobertura policial o fotógrafo conseguiu extrair uma poética sensível. A delicadeza com que as imagens dos corpos foram apresentadas trouxe a denúncia e a solidariedade às vítimas. O olhar humano de Wagner, naquele que é um momento difícil e de muita dor, mostrou a fragilidade da vida e do ser.

Outro paraense foi premiado mas dessa vez a experimentação foi o forte. “Cobogó”, de Emídio Contente, recebeu o Prêmio Diário do Pará. O artista transformou um tijolo em uma câmera artesanal pinhole. Seis furos e seis imagens diferentes, ainda que do mesmo objeto. Uma fotografia em preto e branco, construída com diversas perspectivas e tempos. Horas compartilhadas de um universo particular.

Partindo para uma outra proposta poética, “Derrelição”, de Daniela Alves e Rafael Adorjan levou o Prêmio Diário Contemporâneo. A performance que apresentou a figura feminina em rosa suave dialogando com um espaço arquitetônico em ruinas causou estranhamento e curiosidade. Com qualidades técnicas e cênicas impecáveis, as imagens refletiam muito bem sobre a temática escolhida para a edição.

Além deles, mais 22 selecionados integraram a mostra. Foram Ana Mokarzel (PA), Adrio Denner Santos de Sousa (PA), Amanda Amaral (SP), Carol de Goés (RS), Danielle Fonseca (PA), Fabio Cançado (MG), Gui Mohallem (MG), Heber Bezerra (MG), Ismael Agliardi Monticelli (RS), José Diniz (RJ), Leo Bitar (PA), Leticia Ranzani (SP), Lucio Flávio Santos Adeodato (BA), Larissa Pinho Alves Ribeiro (RJ), Mariana Mifano Galender (SP), Maura Castanheira Grimaldi (SP), Mateus Moura (PA), Marcio Marques de Carvalho (SP), Betânia Barbosa (PA), Pedro Cunha (PA), Renan Teles (SP) e Ricardo Hantzschel (SP).

Fotografia de Valério Silveira, na mostra “Cenário e Personagem”

MOSTRA ESPECIAL

Com o objetivo de valorizar a produção atual da fotografia paraense, o Diário Contemporâneo realizou a mostra especial “Cenário e Personagem”, que reuniu obras de oito artistas convidados. Ana Mokarzel, Marcelo Lelis, Rogério Uchôa, Danielle Fonseca, Bruno Leite, Mateus Moura, Luiza Cavalcante e Valério Silveira apresentaram trabalhos de gerações, técnicas e poéticas diferentes. Eles olhavam a fotografia como espaço de experimentação e reflexão, um ponto de partida para desenvolver narrativas e ficções sobre o cotidiano.

Ana Mokarzel, Mateus Moura e Danielle Fonseca, também estavam entre os selecionados da mostra principal.

AÇÕES

Formado por Marise Maués, Carol Lisboa, Bruno Leite e Pedro Rodrigues, o Coletivo Cêsbixo, que foi selecionado na terceira edição do Prêmio, realizou a oficina “Experimentos com a imagem que se move – Laboratório de Vídeo”. A ação formativa foi voltada ao pensar fotográfico de forma expandida e abrangeu a fotografia em múltiplos suportes e meios, além de refletir com os participantes sobre a questão autoral.

“Arte, natureza e contexto social – O projeto “Adote um urubu”, fruto da tese de mestrado de Andrea Feijó, foi o tema escolhido para a sua palestra. A partir da figura do pássaro a artista trouxe a reflexão sobre o acumulo de lixo em uma pesquisa que foi realizada na Ilha de Algodoal, no Pará.

Val Sampaio realizou a palestra “Arte, natureza e tecnologia – O projeto Água” e a oficina “Arte locativa: mobilidade e sentido”. As duas trouxeram os temas de tecnologia e geoespacialidade como possibilidades para novas criações artísticas e vetores de transformações sociais e de poder.

A programação foi encerrada com Aldrin Figueiredo, que em sua palestra “Entre o rosto da cidade e o rosto do povo: história e fotografia em Belém do Pará no século XIX” analisou as imagens da Belém antiga e a sua representação. Narrativa e história social da arte foram alguns dos tópicos abordados.

AÇÃO EDUCATIVA

Desde a sua primeira edição, o Diário Contemporâneo já havia percebido a importância da mediação artística e sempre formou uma equipe para receber todos os públicos nos museus. Em 2014, este cuidado foi ampliado com uma capacitação especifica para os mediadores e o tabloide, tradicional ferramenta de divulgação da do projeto, cresceu com a inclusão de uma parte da proposta da ação educativa. Nas mãos dos alunos e professores, o material desenvolvido por Heldilene Reale (que este ano integra a comissão de seleção) se tornou uma ferramenta pedagógica. As atividades foram entremeadas por jogos e brincadeiras que utilizaram as obras como ponto de partida. A ideia deu tão certo que vem sendo atualizada a cada edição desde então.

PALESTRA

Aproveitando a presença de Isabel Gouvêa, que integra a comissão de seleção deste ano, o Diário Contemporâneo abrirá com ela a sua programação de palestras da 10ª edição. “Lutas criativas no campo da arte: As experiências da Bahia no Prêmio Pierre Verger e no Programa Kabum! de Arte e Tecnologia” ocorrerá no dia 24 de junho, às 19h, no Museu da UFPA. A entrada será franca.

O PROJETO

Há uma década o Diário Contemporâneo vem lançando proposições e chamando os artistas para o debate, consolidando o Pará como um espaço de criação e reflexão em artes.

O Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia é uma realização do Jornal Diário do Pará com apoio institucional do Espaço Cultural Casa das Onze Janelas, do Sistema Integrado de Museus e do Museu da UFPA; colaboração da Sol Informática, parceria da Alubar e patrocínio da Vale.