Para ter de onde se ir

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Fotografia de Miguel Chikaoka que integra a exposição Para ter de onde se ir.

Idealizador da Associação Fotoativa, Miguel Chikaoka estuda e experimenta metodologias na arte-educação direcionada para a atividade fotográfica, em ações que repercutem para além do estado do Pará.  O fotógrafo abre mostra especial dentro da programação do III Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, como artista convidado, hoje, 29 de março, a partir das 19h, no Museu da UFPA, onde ficará aberta ao público até 27 de maio.

“Recortes” e “Pontuações”.  Miguel Chikaoka define assim o resultado de tudo foi discutido para se chegar à montagem da “Para ter de onde se ir”.

A exposição começou a ser idealizada bem antes, ainda em dezembro de 2011, através de longas conversas entre Mariano Klautau Filho, que coordena o Prêmio, e Miguel Chikaoka,  ora por e-mail, ora pessoalmente em horários extra comerciais, devido aos demais compromissos de ambos.

Depois de percorrer inúmeras ideias para a montagem, uma vez que a obra de Miguel é tão vasta quanto diversa, chegou-se à ideia de realizar uma série que representasse todas as facetas do fotógrafo e que ao mesmo tempo fosse um trabalho representativo de seus vários traços, aproveitando material que ainda não tivesse sido mostrado ao público, mas sem que isso se tornasse uma retrospectiva de sua carreira.

“A mostra não se obriga a uma retrospectiva de toda minha carreira. Vamos concentrar na leitura de recortes e pontuações, apontando algumas ‘pegadas’. Afinal, continuo vivo e caminhando…”, disse Miguel à Mariano, em uma das trocas de e-mail que os dois mantiveram.

Para isso foi preciso encontrar, em fotos de diferentes épocas e lugares, um fio condutor que apresente sua característica de fotografia de rua, mas também pensar num conjunto de trabalhos experimentais em pinhole ou similares, feitos ao longo dos processos das oficinas.

Fotografia em cor, imagens noturnas de cidade do interior, além de uma série inédita e recente, além dos “clássicos” em P&B. Pensou-se em tudo isso. O resultado da curadoria acabou trazendo também o nome da exposição, inspirado no poema  “A Cabana”, de Max Martins.

É preciso dizer-lhe que tua casa é segura/ Que há força interior nas vigas do telhado/ E que atravessarás o pântano penetrante e etéreo/ E que tens uma esteira/ E que tua casa não é lugar de ficar/ mas de ter de onde se ir.

“Pensei que as imagens do poema falam de algum modo na errância, nos pontos fixos e móveis da existência. A errância, como poética, acho que dialoga com o recorte que fizemos do teu trabalho e com os teus movimentos em Belém, na fotografia e nas imagens”, comentou Mariano com Miguel, que na hora, topou.

No dia 05 de abril, Miguel bate papo com o público, com mediação de Mariano Klautau Filho e de Joaquim Marçal (RJ).  “Vai ser uma conversa a partir de um breve relato de experiência e do que orienta o meu envolvimento atual com a fotografia”, explica o artista convidado do Prêmio.

Fundador da agência Kamara Kó, na qual desenvolve foto-reportagens e trabalhos de documentação sobre questões sociais e ambientais da Amazônia, atualmente Miguel está empenhado em projetos do Centro Cultural SESC Boulevard e do Núcleo de Formação e Experimentação da Fotoativa, além de continuar participando ativamente das articulações da Rede de Produtores Culturais da Fotografia no Brasil (REDE) e na Amazônia (REDEAMAZONIA).

Em entrevista, ele comenta um pouco mais sobre a sua participação na programação do III Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia e outros aspectos da carreira.

O que é a exposição, depois de todo o planejamento, conversas e definições com o Mariano?

Miguel Chikaoka: É um recorte sobre minha produção autoral ao longo da minha carreira, com a curadoria do Mariano. Nem retrospectiva tampouco uma panorâmica, mas pontuações pinçadas.

O que você pretende encaminhar no bate papo com o público?

Miguel Chikaoka: Vai ser uma conversa a partir de um breve relato de experiência e do que orienta o meu envolvimento atual com a fotografia.

A Fotoativa está próxima de completar 30 anos de fundação. É um sonho teu que continua fluindo e dando bons frutos, desencadeando e evoluindo com o movimento da fotografia paraense. Como você avalia tudo isso?

Miguel Chikaoka: Uma semente precisa de condições favoráveis para germinar e terra fértil para crescer, florescer, dar frutos. Isso que tu chamaste de sonho é uma semente que veio de outras terras, de outras vivências, de construção coletiva pautada no favorecimento ao crescimento individual.

Então, a Fotoativa pode ser vista como algo semelhante, que aqui encontrou ambiente favorável e terra fértil para crescer. Historicamente vejo como herdeira de experiências coletivas anteriores, como o Fotoclube do Pará dos anos 50 e do Fototificina e Fotopará, na primeira metade dos anos 1980.

Apesar do reconhecimento alcançado, acho que há muito o que fazer pela e com a fotografia na região, sobretudo no campo da educação, voltada para formação cidadã e pelo crescimento de uma consciência crítica.

O que caracteriza a fotografia contemporânea? O contemporâneo é definível?

Miguel Chikaoka: Não me preocupo muito com as classificações, mas é certo que estamos vivendo um momento de fluidez, de incertezas. Já faz algum tempo que a fotografia saiu do congelamento para diálogo e fusão com outras linguagens para constituir uma zona híbrida.

Hoje a fotografia deixou de ser uma escrita operada tão e somente com a matéria luz. A fotografia. ao operar com outras fontes luminosas, saiu do estático, da luz fixada, para ganhar novos contornos e movimentos. Acho que ela incorporou a transitóriedade.

Prestigie!

Abertura da mostra “Para Ter de Onde Se Ir”, de Miguel Chikaoka, artista convidado do III Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, hoje, 29 de março, às 19h, no Museu da UFPA. Visitação até 27 de maio.

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