Linguagens múltiplas na fotografia de Walda Marques

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Walda Marques e Mariano Klautau Filho, no bate papo "Os Lugares do Retrato", no MUFPA

Viver da própria arte. Walda Marques deixou tudo que fazia antes, para se dedicar aquilo que realmente a faria vibrar. A ideia só deu certo. Na última terça-feira, 02 de abril, a fotógrafa convidada especial da 4ª edição do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia conversou com o público no Museu da UFPA, sobre sua carreira. No bate papo “Os Lugares do Retrato”, cercada por suas fotos na exposição “Românticos de Cuba”(mostra inédita), ela falou do iniciou carreira artística, trabalhando em um salão de beleza, e de como isso influenciou definitivamente seu trabalho na fotografia.

Walda, antes de pensar em fotografar, fez várias coisas que marcam ainda hoje sua trajetória profissional. Todas, ligadas a outras atividades artísticas, envolvendo produção, maquiagem, cenografia, teatro, lhe fizeram acumular uma experiência que, no final dos anos 1980, veio à tona, resultando em um processo de elaboração visual fotográfica, hoje consagrada e com assinatura inconfundível, sempre envolvendo personagens, cenários, cores e, principalmente, o universo feminino.

“Tenho facilidade em fotografar gente. Eu gosto disso”, disse logo no início da conversa, instigada pela mediação de Mariano Klautau Filho, curador do Prêmio Diário, responsável pelo convite feito este ano á fotógrafa.  Walda Marques tem como característica estética, o retrato e nesta tendência, ela é procurada por pessoas interessadas em fazer ensaios fotográficos.

Público compareceu e aplaudiu

Para isso, Walda é rápida, corporal e inventiva. Acaba transformando seus clientes em personagens de si mesmos. “Trabalhei muito tempo em um salão de beleza, sempre conversei com as pessoas e isso é colocado também na minha forma de trabalho com a fotografia. Quando alguém me procura pra ser fotografado, eu primeiro tenho que conhecer as pessoas, preciso me aproximar. Algumas vezes, acabo descobrindo nelas o que nem elas mesmas sabem sobre si”, brinca.

Descontraída e espontânea, ela continua falando da trajetória. Lembra que já pintou parede, fez teatro. “Tudo isso serviu para que eu construísse a minha fotografia”, diz. “Já fiz de um tudo, casamento, fui a primeira maquiadora da Tv Cultura do Pará. Eu vivi muito neste meio, e já construí muito para que outros fotografassem”, lembra.

Tudo começou em 1989, na fotografia propriamente dita, quando ela fez a oficina do fotógrafo Miguel Chikaoka, na FotoAtiva. Foi um começo de meio caminho andado em relação a sua estética, algo que ela realiza de forma intuitiva, na maioria das vezes, desenvolvendo uma obra viva, própria e cheia de nuances.

Em 1993, ela participou do Salão Paraense de Arte Contemporânea e no mesmo ano das coletivas “Fotografia construída”, no Museu Lasar Segal e “Fotografia Brasileira Contemporânea”, no SESC – Pompéia, SP. No ano seguinte realizou sua primeira exposição individual “Maria tira a máscara que eu quero te ver. Em 1998 ganhou o prêmio CCBEU com “A estória de Bernadeth” e com o “O homem do Hotel Central”, uma fotonovela com status de produção cinematográfica, ela ganhou prêmio ABRA-Coca-Cola, SP.

Desde 1992, Walda participa das edições do Salão Arte Pará como artista selecionada, premiada e convidada especialmente nas edições de 2006 e 2009. Em 2005, fez parte do Panorama de Arte Brasileira, no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Depois da fotonovela “O Homem do Central Hotel”, em 1998, ainda realizou “A Iludida”, em 2004 e lançou o livro “Lembranças” em 2009.  “Adoro novela. Eu gosto de cinema, mas é muito caro, então eu faço fotografia, fotonovela. Percebi que eu também poderia construir histórias com a fotografia. Adoro contar histórias. “A Iludida saiu de uma revista de moda e é mais uma de minhas histórias sem limites”, diz ela.

Com uma obra extensa, Walda já possui trabalhos em acervos como “Fotografia Contemporânea Paraense – Casa das Onze Janelas”, em Belém, e na “Coleção Pirelli/MASP de Fotografia”, em São Paulo. Mas o que mais marca, além das cores, o seu trabalho é o foco no universo feminino. “Trabalho com mulheres. Meu universo fotográfico é muito feminino. Já fotografei as erveiras do Ver o Peso, e mesmo nesta exposição de Cuba, o feminino é sempre presente. A intimidade também é algo forte. Não tenho medo de chegar nas pessoas”, revela.

Outro elemento marcante na fotografia de Walda é o cenário. “Para mim, o personagem precisa de um fundo, que possa contar um pouco da historinha dele. Acho que isso vem da infância. Eu tinha um tio que construía cenários. Meu pai tinha um estúdio fotográfico. Cresci neste universo. Tudo me influenciou, mas também foi surgindo de acordo com os passos que fui dando. Para mim, o imaginário é o meu estúdio”, finaliza.

Adepta da fotografia aplicada, como Mariano enfatizou, Walda Marques passeia por entre as linguagens artísticas que se cruzam em sua obra. É uma profissional que atua em diversos processos relacionados à produção e aplicação da imagem fotográfica em contextos contemporâneos, não só de convergência tecnológica. A partir das transformações mercadológicas e da reflexão sobre a linguagem e a estética da imagem, Walda consegue adequar seus resultados aos múltiplos contextos narrativos envolvidos.

Serviço

Conheça mais do trabalho de walda marques. Exposição “Românticos de Cuba”, no Museu da UFPA – Av. Governador José Malcher, 1192, Nazaré. Mais informações: (91) 3242-8340.

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