Diário Contemporâneo de Fotografia chega a última semana

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São os últimos dias para ver as duas mostras que compõe este ano o Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, projeto nacional que incentiva a cultura, a arte e a linguagem fotográfica em toda a sua diversidade. Aberto a todos os artistas brasileiros ou residentes no país, o Prêmio é promovido pelo jornal Diário do Pará e conta com o patrocínio da Vale e com as parcerias da Casa das Onze Janelas do Sistema Integrado de Museus/ Secult-PA e o Museu da Universidade Federal do Pará (MUFPA).

Em sua 3ª edição, o Prêmio recebeu cerca de 300 inscrições de artistas de todo o país e recebeu a visita de cerca de 1.500 alunos de mais de 30 escolas públicas. O tema Memórias da Imagem reúne 23 trabalhos, na Casa das Onze Janelas enquanto o Museu da UFPA recebe a mostra “Pra ter de onde se ir”, com fotografias do artista convidado deste ano, o fotógrafo Miguel Chikaoka. Desde março, a mostra traz imagens pouco conhecidas do artista convidado da 3ª edição do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia. Entre elas, fotografias feitas na residência do músico Tó Teixeira. Já a Mostra Memórias da Imagem, na casa das Onze Janelas, traz trabalhos que exploram de maneiras diversas, as possibilidades que a experiência da memória evoca nas representações visuais.

A visita por esta mostra passa pelas salas Valdir Sarubbi, Gratuliano Bibas e o Laboratório e é um convite para se perder vendo cada trabalho, vídeos, ouvindo textos ou músicas e lendo cartas ligadas às imagens, por exemplo, da obra “O apanhador de memórias”, por exemplo, de Wagner Okasaki.

O artista apresenta imagens, próprias e apropriadas, obtidas a partir de negativos ou de diapositivos digitalizados em aparato artesanal-caseiro (apelidado de “apanhador de memórias”), composto por uma câmera digital compacta, uma luminária de teto invertida e algumas embalagens recicladas (vide projeto de montagem).

Outra dica é ver o vídeo arte “Chippendale”, que entre outras sensações, nos remete a memória, o gosto das frutas que são degustadas pelo personagem criado pelo do Coletivo Cêsbixo. A obra é considerada um vídeo, no que concerne seu suporte, mas a linguagem busca evidenciar limites mais fluidos no que diz respeito entre semelhanças e diferenças de linguagem fotográfica, de vídeo-arte ou cinema.

PALESTRAS – Este ano, o projeto reforçou seu compromisso com a educação e a pesquisa, através de visitações de estudantes, e  com programação de palestras, encontros com artistas, oficinas e atividade educativa com as escolas. A última delas, encerra neste domingo, com Octavio Cardoso, que trabalha como o tema os ensaios fotográficos no jornalismo impresso.

Este ano foram realizadas três palestras, a primeira ainda em fevereiro, com Heloisa Espada, Doutora em História, Teoria e Crítica da Arte pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. A segunda, com o idealizador da Associação Fotoativa, Miguel Chikaoka e a terceira, na semana passada com o fotografo, professor e pesquisador Alexandre Sequeira.

“Pensamos em ampliar mais a programação de oficinas e palestras, mas estamos fazendo isso aos poucos pois, quando você lida com trabalhos e artistas de todo o Brasil, é uma grande responsabilidade…” diz Mariano Klautau Filho, coordenador do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia.

Mas nesta 3ª edição do Prêmio percebe-se que o projeto vem ganhando força em todo o país. “Creio que os méritos são basicamente consolidar as ideias que foram pensadas desde o inicio, ou seja, não abrir mão do diálogo nacional, da visão abrangente sobre fotografia em diálogo com a arte e de propor sempre um campo para o artista, mesmo aquele que não seja necessariamente fotógrafo, mas que veja na fotografia um meio pelo qual pode pensar a imagem em suas mais diversas manifestações”, explica.

FORMAÇÃO – A ideia é que cada vez mais o Prêmio se torne um projeto de formação. “É esta a configuração ideal, mas podemos avançar na estrutura de produção para garantir a ampliação das atividades de formação”, continua.

O artista convidado deste ano, Miguel Chikaoka, para a mostra “Pra se ter onde ir”, tem muito haver com esta nova direção a que o premio vem se afirmando. “O Miguel tem uma importância fundamental na formação de diversas gerações de artistas especialmente aos que vem se dedicando à fotografia”, afirma Mariano.

Na exposição, que teve curadoria dele, a ideia foi de fazer realmente um recorte do trabalho do Miguel. “São imagens que indicam uma certa instabilidade mas que são um exercício na construção das imagens. Daí a ideia de que a casa (assim como a fotografia) é um ponto de partida e não somente de chegada”, reflete.

Para Mariano, a curadoria deste ano foi muito feliz, em especial pelo fato da comissão ter selecionado em sua maioria os projetos de cada artista em sua íntegra. “Isso faz a mostra ser uma reunião de trabalhos com muita personalidade em que o traço e escolha do artista ficam mais visíveis e maduros”.

Mariano avalia que os artistas responderam muito bem à proposta do tema Memórias da Imagem, porque subverteram a noção mais convencional da fotografia em relação com a memória. “Era esse o objetivo do projeto. E a Casa das 11 janelas é um espaço generoso e com isso foi possível trabalhar os artistas individualmente, dar mais espaço (literalmente) para seus trabalhos”, complementa.

A realização do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia é do Jornal Diário do Pará. Patrocínio da Vale e Governo do Estado. Apoio Espaço Cultural Casa das Onze Janelas – SIM /Secult-PA, Museu da UFPA, Sol Informática e Instituto de Artes do Pará.  Informações: (91) 3184-9327 / (91) 8128-7527. www.diariocontemporaneo.com.br / imprensa@diarioconteporaneo.com.br / Twitter: @premiodiario

A fotografia como documento e memória

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Alexandre Sequeira e Seu Juquinha, na vila de Lapinha da Serra

“Imagem, realidade e fabulação”. A palestra do fotógrafo e pesquisador Alexandre Sequeira, que faz parte da programação do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, será nesta quinta-feira, 17 de maio, a partir das 19h, no Instituto de Artes do Pará, com entrada franca.

Alexandre vai abordar a pesquisa que ele realizou durante o ano de 2010, quando frequentou a vila de Lapinha da Serra, município de Santana do Riacho, na região da Serra do Cipó. O trabalho foi objeto de pesquisa de sua de dissertação de Mestrado, defendida na UFMG.

O trabalho desenvolvido em Lapinha da Serra, segundo Alexandre, tem o mesmo caráter relacional do desenvolvido em Nazaré do Mocajuba e de outro que ele realizou também com dois adolescentes residentes na ilha do Combú e no bairro do Guamá.

“Na verdade a fotografia se apresenta como um instrumento de aproximação e troca de impressões de mundo. O trabalho se afirma muito mais na relação que se estabelece do que na fotografia propriamente dita. Nesse sentido, a fotografia assume um caráter de documento construído a seis mãos, envolvendo eu, Rafael – um adolescente de 13 anos -, e seu avô, Seu Juquinha, de 84 anos”, diz ele referindo-se aos personagens focados neste último trabalho.

Durante o bate papo desta quinta-feira, Alexandre vai utilizar as imagens dessa experiência, além de pontuações teóricas para construir a conversa e a discussão com o público presente. “A palestra trata de nossa relação com a fotografia enquanto documento, enquanto memória de algo que efetivamente aconteceu. Mas a fala procura dirigir as atenções às relações que se estabelecem entre fotógrafo e fotografado, entre o que acontece antes ou mesmo depois do momento do registro. Relações estas que, de certa forma, relativizam ou ampliam esse valor de documento da fotografia”, diz Alexandre.

Laços – Ele conta que ao longo do período na Lapinha da Serra, a fotografia foi responsável pela construção de laços de convívio e afeto com alguns moradores locais, em especial com Rafael, de 13 anos, e sua família. “Refiro-me a um certo caráter performativo do ato fotográfico que envolve a todos que dele fazem parte e que, embora se tenha a impressão que diz respeito à uma produção fotográfica mais recente, na verdade acompanha a fotografia desde seu surgimento”.

Para Alexandre, as relações que se estabelecem a partir do convívio com as pessoas envolvidas e entre seus olhares e interpretações de mundo, tecem laços que os aproximaram enquanto permanentes construtores de sonhos, fantasias e desejos.

“A fotografia, que por vezes animou esse convívio, se apresentou tanto como instrumento de construção de uma etnologia da saudade – por seu inegável valor documental –, quanto por seu potencial emancipador, dada a perda de sentido de realidade que suas possibilidades interpretativas suscitavam”, continua.

Foi nessa perspectiva que palavras, imagens e acontecimentos animaram o convívio de Sequeira com Seu Juquinha e Rafael e por assim em diante se converteram em uma história, com elementos que se oferecem como fio condutor para a construção de uma narrativa capaz de tratar dos espaços da diferença e da alteridade.

O conjunto de fotografias produzidas ao longo dos dois anos pelo artista e por Rafael é guardado por ambos –, como um banco de dados passível de diferentes interpretações. Do mesmo modo, os relatos de Seu Juquinha, que por tantas vezes conduziram Sequeira por entre palavras, pausas ou entonações, no desafio de subverter os regimes do visível e do invisível, também servem como elemento indutor de ressignificações da vida em Lapinha da Serra.

Os registros sonoros desses encontros, fragmentos de conversas e sons da ambiência do lugar, compõe uma partitura sonora que é também encaminhada de volta à vila, como contribuição ao trabalho educativo desenvolvido por alguns moradores no Espaço Cultural situado ao lado da pequena igreja local.

Memória e falas – A intenção é que o material possa servir como outra forma de tratar a história, a memória e as qualidades de Lapinha da Serra, junto às crianças e adolescentes, assíduos frequentadores daquele espaço; como um meio de replicar a fala de Seu Juquinha – figura tão importante para a vila –, dando ao passado através de sua permanente revisão, um sentido de retomada, essa sim, uma forma nobre da memória.

Depois que defendeu a dissertação, Alexandre foi convidado a falar do projeto numa exposição em São Paulo, chamada “Por aqui, formas tornaram-se atitudes”. A exposição reunia nomes da cena das artes visuais como Helio Oiticica, Ligya Clark, Ligia Pape, Laura Lima e muitos outros.

Em seguida, ele também foi convidado a falar no Festival Internacional de Porto Alegre, no Festival de Fotografia de Recife, no Festival Internacional de Fotografia do Rio, no Festival de Fotografia de Manaus, numa palestra que proferi para o curso de Pós Graduação de Fotografia da Faculdade Armando Álvares Penteado em SP, em um curso de fotografia realizado no MAM de São Paulo e, mais recentemente, no Festival Internacional de Fotografia de Montevideo.

Já há algum tempo que o pesquisador não volta à Lapinha da Serra, um vilarejo bem isolado, no meio da Serra do Cipó. No mês que vem, porém, ele regressará à vila. “Em função desta distância e de minha agenda que tem sido um pouco corrida, não tenho tido oportunidade de manter contato com Rafael e Seu Juquinha, mas no fim de junho farei uma fala sobre a experiência em Belo Horizonte, no Palácio das Artes, dentro de uma exposição da qual farei parte, e já estou me programando para conseguir um carro e ir encontrá-los”, finaliza.

Serviço

Palestra ““Imagem, realidade e fabulação”, com o fotógrafo e pesquisador Alexandre Sequeira – Nesta quinta-feira, 17/05, a partir das 19h, no Instituto de Artes do Pará, com entrada franca – Pça Justo Chermont, ao lado da Basílica de Nazaré.

“Pra ter de onde se Ir” com Tó Teixeira e Miguel Chikaoka

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O Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, em sua 3ª edição, está homenageando o fotógrafo Miguel Chikaoka. Aberta em março, a mostra “Pra ter de onde se ir”, que traz imagens pouco conhecidas do artista convidado, ocupa as salas principais do Museu da UFPA, situado na Av. Governador José Malcher esquina da Generalíssimo Deodoro. Em duas das salas, espalham-se fotografias feitas nos anos 1980 e outras décadas, com cenas cotidianas ou de passagem de Miguel por tantos municípios paraenses. Mas há também um espaço reservado que vem chamando atenção do público.

Lá, vemos uma mesa e sobre ela várias caixas cheias de memória. Dentro delas misturam-se fotografias. Algumas, da casa em que Miguel Chikaoka morava com a família e os irmãos em São Paulo, nos anos 1960, muito antes dele pensar em vir para Belém. Na outra, surge a residência de Tó Teixeira, um dos nomes mais importantes da música e do choro paraense. Miguel chegou, que naquele ano de 1981 já estava na capital paraense e foi levado, por acaso, à casa do músico, por outro ‘chorão’, o saudoso Aldemir Ferreira da Silva, proprietário da Casa do Choro, o reduto mais efervescente do choro, na época, na cidade.

“Logo que cheguei a Belém conheci um grupo que atuava na Casa do Choro entre eles o Aldemir (Ferreira da Silva). Foi ele que me convidou pra ir até a Casa do Tó Teixeira. Enquanto os dois ficavam conversando eu andei pela casa e fiz várias fotos. Naquela época não me dava conta da importância de Tó Teixeira. Não sei direito o que o Aldemir foi fazer ali, acho que bater um papo. Lamento não ter me envolvido mais diretamente com o Tó, eu estava coadjuvante e só depois tive consciência de quem era ele”, diz Miguel revirando sua memória de 30 anos atrás.

É fato. Nos anos 1980 Belém estava completamente envolvida, musicalmente, com a renovação do chorinho paraense, que a partir dali começava a ter espaços especificamente para se ouvir o ritmo. A Casa do Choro, idealizada por Aldemir, foi uma das pioneiras e reunia amigos e apaixonados por choro, incluindo aí, Miguel Chikaoka.

Chikaoka – Miguel é paulista, nasceu em 1950, estudou engenharia na Universidade de Campinas (SP), onde se graduou em 1976. Depois disso morou entre 1977 e 1979 na cidade francesa de Nancy, onde frequentou a École Supérieure de Mécanique et Électricité, mas abandonou o curso antes de seu término. No início dos anos 1980, Miguel se afirma como fotojornalista, colaborando primeiramente com a Agência F/4 (entre os anos de 1981 e 1991) e, em seguida, com a N Imagens (no período compreendido entre 1991 e 1994).

Desde sua instalação em Belém, Chikaoka se destacou como um dos mais empenhados e singulares professores de fotografia do país, tendo exercido profunda influência sobre toda uma geração de fotógrafos paraenses graças a iniciativas como o Foto-Varal (que promovia exposições alternativas em locais públicos) e o grupo Fotoativa, que fundou em 1983 e foi transformada em associação em 2000, continuando em funcionamento até os dias de hoje.

Caixinhas de memória – Dentro das caixinhas expostas na mostra que se encontra no Museu da UFPA, as fotografias mostram, portanto, duas casa, longe uma da outra. E dois destinos que se encontraram, embora rapidamente. Tó nasceu em 1895 e faleceu em 1982, um ano depois de ter sua casa fotografada por Miguel Chikaoka. Na mostra “Pra ter de onde se ir” a ideia é brincar com as  fotos, tentando descobrir de quem é uma e outra casa ali retratada, e também revirar a memória.

Em algumas pode-se perceber claramente a casa de Tó Teixeira, músico consagrado na história da música popular e erudita paraense. Em algumas delas há um cartaz de aviso, onde se lê o endereço do músico: “Rua Domingos Marreiros, 340, entre Almirante Wandenkolk e Dom Romualdo de Seixas”. Em outra, há uma placa de aviso aos seus alunos, datada de 1969: “É favor que o bom aluno faz terminar a lição entregar o violão ao outro e retirar-se. Agradecido. Tó Teixeira”.

Mas para decifrar outras é preciso mais atenção. Eis o jogo proposto ao público visitante, que além da diversão, pode sentir-se instigado a conhecer mais sobre a história deste músico, que dá nome à lei municipal de incentivo à cultura e atualmente também vem tendo sua vida e obra pesquisada pelo músico e estudioso Salomão Habib.

Tó Teixeira – Tó Teixeira é um dos nomes importantes do chorinho, um gênero tipicamente brasileiro. Era negro, pobre, filho de um violonista chamado Aluísio Santos e que, por sua influência, teve contato com a música desde muito criança e, mais tarde, com seu grupo “Os desejados”, acabou se tornando uma das grandes expressões da música do Pará.

Morou sempre no bairro do Umarizal, onde conviveu com seresteiros e boêmios de Belém. Era um artista popular e conhecedor das tradições culturais de rua, visíveis em pássaros juninos, bois-bumbás e pastorinhas do popular bairro negro e operário belenense.  Por volta de 1925, Tó já freqüentava e era bastante conhecido nos espaços musicais da cidade. Sozinho ou acompanhado com seu grupo tocou em salões aristocráticos e em festas populares.

A partir da década de 1930 atuou também nas ondas da rádio PRC-5, a Radio Clube do Pará, em vários momentos. Produziu em gêneros diversos que iam de peças de caráter popular ao clássico, passando por valsas, marchas, choros, sambas, batuques, maxixes, etc.

Como muitos artistas paraenses Tó Teixeira viveu de outras atividades profissionais, foi encadernador afamado na cidade e o seu sustento em grande parte decorreu desta atividade. Em 1968 o pesquisador Vicente Salles fez um registro fonográfico de algumas músicas de Tó, mas tarde este material foi aproveitado no LP “Lá vem o tio Tó”, Editado por Marcos Pereira em 1976. O talento do músico também foi reconhecido com o lançamento do disco Música e Memória v. 2, produzido pelo Núcleo de Artes da UFPa em 1993.

MAIS AÇÕES – O III Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia também continua com a mostra Memórias da Imagem, que reúne obras de três artistas premiados e mais 20 selecionados, aberta até dia 28 de março, só que na Casa das Onze Janelas. O agendamento de turmas escolares para visitação pode ser feito pelo telefone 91 4009.8855 (Casa das Onze Janelas) e, para o Museu da Ufpa, pelo Tel: 91 3224 – 0871.

Em maio, continuam abertas até dia 10, as inscrições para a oficina “Ensaio – Resumindo Uma Ideia”, com o fotógrafo Octavio Cardoso, que acontecerá de 14 a 24 de maio, no Instituto de Artes do Pará. No dia 17 de maio, haverá a palestra Imagem, Realidade e Fabulação – A Reinvenção da Memória na Vila de Lapinha da Serra, com o fotógrafo e pesquisador Alexandre Sequeira, que fará um relato de uma ação artística desenvolvida no pequeno vilarejo de Lapinha da Serra, no interior de Minas Gerais. Às 19h, no Instituto de Artes do Pará, também com entrada franca.

A realização do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia é do Jornal Diário do Pará. Patrocínio da Vale e Governo do Estado. Apoio Espaço Cultural Casa das Onze Janelas – SIM/Secult-PA, Museu da UFPA, Sol Informática e Instituto de Artes do Pará.  Informações: (91) 3184-9327 / (91) 8128-7527. www.diariocontemporaneo.com.br / imprensa@diarioconteporaneo.com.br / Twitter: @premiodiario

Imagens e memória por todos os sentidos

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Video arte “Chippendale” (Coletivo Cêsbixo)

Visitar a mostra principal “Memórias da Imagem” da 3ª edição do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia é o mesmo que fazer uma viagem, deixando-se levar por nossos vários sentidos. Tato, audição, visão e até mesmo o olfato, caso resolva-se ir até a Casa das Onze Janelas, naquele horário após a chuva de Belém, quando o cheiro de umidade sobe no ar, mediado pelo calor típico das tardes amazônicas, à beira do rio, onde o Espaço Cultural, parte do Complexo Feliz Lusitânia, fica situado, em plena Cidade Velha. Ou o Paladar. Ao ver o vídeo arte “Chippendale”, entre outras sensações, ele pode nos trazer à memória, o gosto das frutas que são degustadas pelo personagem criado pelo do Cêsbixo.

A obra é considerada um vídeo, no que concerne seu suporte, mas a linguagem busca evidenciar limites mais fluidos no que diz respeito entre semelhanças e diferenças de linguagem fotográfica, de vídeo-arte ou cinema. “Temos a alegoria de um personagem que interage com seu espaço de vivência e sua interação é uma alegoria do seu viver, do seu fazer artístico, de produzir representação, imbricado com o viver artístico, apenas se relacionando com a representação de mundo que a imagem possibilita”, explicam os integrantes da obra.

“Já não consumimos coisas, mas somente signos”. A partir desta afirmação de Baudrilard o grupo tem como o ponto de partida do personagem “Chippendale”, o emaranhado de signos que é apresentado, a vivência e a confluência entre ele, suas ações e sua própria relação com os objetos em cena.  O próprio nome do personagem advém do sobrenome de um designer que concebeu um estilo de mobiliário tão popular no século XIX e início do século XX, uma época evidente da crise da representação, das novas percepções de mundo, a gênese da problemática pós-moderna.

Vários sentidos – Na Casa das Onze Janelas, a visita pode demorar até duas horas, passando pelos três espaços muito bem montados e ocupados pelas obras dos 23 artistas entre os premiados e selecionados pelo Prêmio. É um convite para se perder vendo cada trabalho, os videos, ouvindo textos ou músicas e lendo cartas ligadas às imagens, por exemplo, da obra “O apanhador de memórias”, por exemplo, de Wagner Okasaki.

O artista apresenta imagens, próprias e apropriadas, obtidas a partir de negativos ou de diapositivos digitalizados em aparato artesanal-caseiro (apelidado de “apanhador de memórias”), composto por uma câmera digital compacta, uma luminária de teto invertida e algumas embalagens recicladas (vide projeto de montagem).

Como a fonte de luz é constituída de uma lâmpada fluorescente branca, as fotos resultantes apresentam uma certa distorção de cores. Essas cores “erradas” evocam a mesma atmosfera onírica presente em seus devaneios nostálgicos. Cada imagem ou série de imagens está acompanhada de um depoimento manuscrito dos personagens envolvidos. E durante a exposição, o próprio apanhador de memórias está instalado e disponível para digitalização de negativos/slides dos visitantes. O trabalho é fantástico, pois cada manuscrito vai trazendo identificação com os visitantes. As imagens em si talvez não causassem tanto impacto sem a palavra escrita.

Ouvindo – Há ainda a instalação de Milla Jung, País Imaginário, uma proposição da artista sobre a potência das imagens contemporâneas no campo da arte. Partindo da pergunta de como se apreende uma fotografia, a artista cria um território para o espectador experimentar o sem-fim de possibilidades sobre a escuta das imagens. Uma fotografia que é acordada por uma narrativa que por sua vez também acorda novas imagens, numa via de mão única onde a experiência primeira se perde em nome do multiplicável. Com tudo isso e muito mais, o público que visita a mostra Memórias da Imagem acaba refletindo. Afinal, o que nos traz imagens à memória não são necessariamente as fotografias, pois os sons, as sensações de cheiros e sabor são fatores e sentidos que nos ativam, e muito, a memória. A imagem é ou pode ser mera ilusão.

As obras citadas neste texto ocupam a sala maior da Casa das Onze Janelas, que recebe o nome de Valdir Sarubbi, artista paraense não menos conhecido por sua obra de memória amazônica, e onde está a maioria das obras selecionadas pelo prêmio.  Ainda há muito o que ver também na sala Gratuliano Bibas, que traz a vídeo instalação “Banco de Tempo”, de Isabel Löfgren & Patricia Gouvêa, a instalação “S/T”, de Roberta Dabdab e a o vídeo  “Vazios”, de Alberto Bitar. Na sala “Laboratório”, você confere o trabalho Mikvot, de Marian Starosta.

Este ano, o Prêmio reúne obras de 3 artistas premiados e mais 20 selecionados. A Mostra memórias da Imagem abriu no dia 28 de março, na Casa das Onze Janelas, e no dia seguinte, 29, inaugurou a exposição “Pra te de onde se ir”, do artista convidado Miguel Chikaoka, no Museu da UFPA. A realização do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia é do Jornal Diário do Pará. Patrocínio da Vale e Governo do Estado. Apoio Espaço Cultural Casa das Onze Janelas – SIM /Secult-PA, Museu da UFPA, Sol Informática e Instituto de Artes do Pará.  Informações: (91) 3184-9327 / (91) 8128-7527. www.diariocontemporaneo.com.br / imprensa@diarioconteporaneo.com.br / Twitter: @premiodiario

MAIS AÇÕES – O III Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia continua com a Mostra “Pra Ter de Onde se Ir”, de Miguel Chikaoka, abertas até dia 27 de maio, no Museu da UFPA, com entrada franca. Informações sobre o agendamento de turmas escolares para visitação podem ser obtidas pelo telefone 91 4009.8855 (Casa das Onze Janelas) e, para o Museu da Ufpa, pelo Tel: 91 3224 – 0871. Em maio, além da oficina “Ensaio – Resumindo Uma Ideia”, com o fotógrafo Octavio Cardoso, que acontecerá de 14 a 24 de maio, no Instituto de Artes do Pará, cujas inscrições ficam abertas até dia 10 de maio.

No dia 17 de maio, a palestra Imagem, Realidade e Fabulação – A Reinvenção da Memória na Vila de Lapinha da Serra, com o fotógrafo e pesquisador Alexandre Sequeira.

O artista fará um relato de uma ação artística desenvolvida no pequeno vilarejo de Lapinha da Serra, no interior de Minas Gerais, com objetivo de refletir sobre a relação do homem com a imagem fotográfica, enquanto importante elemento de elaboração de um sentido de memória. Esta ação acontecerá no dia 17 de maio, às 19h, no Instituto de Artes do Pará, também com entrada franca.

A edição fotográfica como resumo de uma ideia

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Life Magazine, pioneira na publicação de ensaios fotográficos

Já estão abertas as inscrições para a oficina “Ensaio – Resumindo Uma Ideia”, com o fotógrafo Octavio Cardoso, que acontecerá de 14 a 24 de maio, no Instituto de Artes do Pará. Os interessados devem baixar a ficha de inscrição que se encontra aqui mesmo no site do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, preenchê-la e levá-la assinada ao escritório do prêmio (Av. Gaspar  Viana 773). Os pré-requisitos são que o candidato tenha câmera digital e leve anexado à ficha de inscrição, um portfólio de 6 fotografias, de qualquer tamanho. As aulas presenciais acontecerão nos dias 14, 17, 21 e 24 de maio, das 19h às 21h, no Instituto de Artes do Pará e as saídas fotográficas serão de 15 a 23 de maio, de forma livre. O período de inscrição vai até 10 de maio.

Ensaio – Quais imagens escolher? Coloca-las em página inteira ou pela metade, abri-las ou não, muitas fotos pequenas ou poucas e grandes? Estas questões sempre surgem na hora de se editar um ensaio fotográfico numa página de jornal. Mas o que é isso um ensaio fotográfico? È basicamente uma história contada através de imagens, muitas vezes acompanhadas de legendas de texto, publicadas em revistas, jornais, on-line, e às vezes em formato de livro.

Existem dois tipos de ensaios fotográficos, a forma narrativa, que conta uma história através de uma seqüência de imagens, que podem ser planejadas com antecedência, ou geradas enquanto documentava um evento. O segundo é o de temática, que reúne essencialmente uma coleção de imagens em torno de um tema central. De qualquer forma, conta-se uma história.

No caso, a oficina ministrada por Octavio Cardoso trabalhará com temas, que serão escolhidos e discutidos para que os participantes desenvolvam dois ensaios fotográficos, tendo como objetivo editá-los numa página de jornal.  Para isso serão oferecidos exemplos e informações técnicas que, junto a um designer gráfico, serão assimiladas a fim de resumir os assuntos, limitando-os ao espaço de apenas uma página de jornal.

“A ideia geral é aprofundar os conceitos de ensaio fotográfico, dando exemplos, mas a oficina será essencialmente prática. Vamos montar dois grupos e eleger um tema para ser desenvolvido por cada um e teremos várias saídas de campo em busca de captar as imagens dos temas relacionados na oficina”, explica Octavio Cardoso.

“Vamos discutir como é que se resolve um assunto, se fotos grandes são melhores de se usar, do que selecionar várias pequenas, dependendo do tema. A partir daí, vamos buscar soluções aos problemas que forem surgindo. Esta é uma demanda que acompanha o editor de fotografia constantemente, tanto em revistas quanto em jornais. Mas todo fotógrafo gosta desse exercício”, complementa.

Para preparar os participantes, a oficina também trabalhará a teoria, utilizando vários exemplos de como se usar bem um ensaio fotográfico e mostrará alguns deles, por exemplo, realizados pela extinta revista Life Magazine.  “Esta revista foi a primeira a usar ensaios fotográficos em suas páginas, portanto é referência. Selecionar imagens entre as opções de fotos trazidas do trabalho de campo e como definir aquelas que melhor vão contar a história escolhida, será nossa tarefa”, finaliza.

O MINISTRANTE – Octávio Cardoso começou a fotografar em 1984, na Associação Fotoativa. Ganhou em 1986 juntamente com Ana Márcia Souza o Prêmio Esso de Jornalismo Regional Norte. Em 1990, fundou juntamente com Miguel Chikaoka, Patrick Pardini e Ana Catarina Brito a Kamara – Kó Fotografias, onde ficou até 1994. De 1990 a 1995 trabalhou como cinegrafista e diretor de fotografia na DCampos Produções e no projeto Academia Amazônia da UFPA. Em1995 criou com Walda Marques a WO Fotografia. Desde 1988 desenvolve trabalhos de documentação, arquitetura e publicidade. Atualmente é editor de fotografia do Jornal Diário do Pará.

MOSTRA E AÇÕES – O III Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia continua com as Mostras “Memórias da Imagem” e “Pra Ter de Onde se Ir”, de Miguel Chikaoka, abertas até dia 27 de maio, no Espaço Cultural Casa das Onze Janelas e no Museu da UFPA, respectivamente e com entrada franca. Informações sobre o agendamento de turmas escolares para visitação na Casa das Onze Janelas podem ser obtidas pelo telefone 91 4009.8855 e, para o Museu da Ufpa, pelo Tel: 91 3224 – 0871.

Em maio, além da oficina de Octavio Cardoso, também será realizada a palestra Imagem, Realidade e Fabulação – A Reinvenção da Memória na Vila de Lapinha da Serra, com o fotógrafo e pesquisador Alexandre Sequeira. Ele fará um relato de uma ação artística desenvolvida por ele no pequeno vilarejo de Lapinha da Serra, no interior de Minas Gerais, com objetivo de refletir sobre a relação do homem com a imagem fotográfica, enquanto importante elemento de elaboração de um sentido de memória. Esta ação acontecerá no dia 17 de maio, às 19h, no Instituto de Artes do Pará, também com entrada franca.

A realização do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia é do Jornal Diário do Pará. Patrocínio da Vale e Governo do Estado. Apoio Espaço Cultural Casa das Onze Janelas – SIM /Secult-PA, Museu da UFPA, Sol Informática e Instituto de Artes do Pará. Informações: (91) 3184-9327 / (91) 8128-7527. www.diariocontemporaneo.com.br / imprensa@diarioconteporaneo.com.br / Twitter: @premiodiario

Selecionada no Prêmio, Patrícia Gouvêa lança livro

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Imagem de Patrícia Gouvêa e Isabel Löfgren, da série Rotas de Fuga, selecionada no III Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia.

Fundadora do Ateliê da Imagem Espaço Cultural, no bairro da Urca, no Rio de Janeiro, Patrícia Gouvêa está em Belém, participando do III Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, para o qual foi selecionada. Aproveitando sua passagem pela cidade, ela lança, nesta sexta-feira, 30,no primeiro Café Fotográfico do ano, evento promovido pela Associação Fotoativa, o livro “Membranas deLuz”, a partir das 18h, no Instituto de Artes do Pará.

“Membranas de Luz: os tempos na imagem contemporânea” é fruto da pesquisa de mestradoem Comunicação e Cultura pela ECO/UFRJ da fotógrafa, com orientação de Katia Maciel,artista, professora da UFRJ e pesquisadora do CNPq.

“O livro saiu ano passado no Rio pela Azougue Editorial, editora dirigida por Sergio Cohn,que vem fazendo um excelente trabalho de pesquisa e publicações na área de cultura epensamento. O conceito de TEMPO e seus múltiplos desdobramentos e experiências constituium eixo na minha pesquisa com fotografia e outros suportes”, explica.

O bate papo com a autora será norteado por este conceito que, de acordo com a resenhaescrita por Eurípedes G. da Cruz Junior, pesquisador do IBRAM, que trabalha no MuseuNacional de Belas Artes, a autora desconstrói a noção de tempo congelado, morte do fluxo, derivados do instantâneo ou da pose, senhores absolutos dos domínios da linguagemfotográfica, existente de forma conceitual nas pessoas.

“Em Membranas de Luz, a artista Patrícia Gouvêa desconstrói essas noções como pretexto e ponto de partida para levar o leitor além da superficialidade, instiga-lo a refletir, junto com ela, sobre transcendências – sair da mera reação às imagens para a experiência das mesmas, em especial aquelas que “nascem sob o signo da necessidade, as imagens apresentadas pela arte,que estimulam a inteligência poética e a reflexão crítica e filosófica sobre o mundo”, afirma Eurípedes.

O encontro fotográfico também vai ser uma boa oportunidade para conversar com Patrícia sobre as obras que estão expostas na Mostra “Memórias da Imagem”, principal exposição do III Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, aberta na última quarta-feira, na Casa das Onze Janelas.

Diário Contemporâneo – “Eu e Isabel Löfgren fomos selecionadas juntas com 2 obras de nossasérie e projeto em andamento Banco de Tempo, que gerou a exposição homônima em cartaz desde janeiro na Galeria do Lago/Museu da República (RJ). A exposição segue até 29 de abril e foi concebida para a “Série Duplas” da Galeria do Lago”, explica.

De acordo com ela, a série é formada de vídeo-instalações, fotografias e uma intervençãode texto nos bancos do Jardim da República, “fruto de uma imersão no local ao longo demais um ano, onde o desafio foi criar uma obra que fizesse o link entre o jardim e a galeria,e entre o Museu da República, ex-sede das residências dos presidentes da República, e acontemporaneidade”. No Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, as obras “Rotas de Fuga” e “LéctureSur L’herbe” são, respectivamente, um vídeo realizado em 3 canais e uma instalação comvídeo e fotografia.

“Estamos muito felizes com a seleção para o Prêmio e acho incrível que uma iniciativa como esta floresça fora do ‘eixão’ e que proponha uma visão sobre a fotografia que vá além da questão do suporte fotográfico, o que comprova que o Pará sempre esteve à frente nopensamento sobre a fotografia. Isso é comprovado pelas seleções anteriores da Keyla Sobral eda Roberta Carvalho, por exemplo. A curadoria do Prêmio está de parabéns!”, exalta.

Relação com Belém – Mas não é de hoje que o fluxo entre Patrícia e Belém do Pará vem transcorrendo. Miguel Chikaoka que a recebe nesta sexta-feira, pela Fotoativa, por exemplo, a conhece desde os anos 1990, quanto ela esteve em Belém fotografando o Círio de Nazaré e de quando fundou, em 1999, o Ateliê da Imagem.

“Hoje, o Ateliê é uma das principais referências brasileiras no ensino, produção e pensamentosobre a fotografia e a imagem. Nos últimos anos vem se destacando como produtora cultural”,diz Chikaoka. É lá que está em exposição, desde o início de março, a mostra “Symbiosis”, daartista visual Roberta Carvalho, à convite e com curadoria de Patrícia.

“Sempre organizamos exposições, mas neste segundo espaço pudemos ter umaGaleria permanente, um espaço que é um desafio, porque é um corredor, mas por issomesmo estimulante, porque não é um espaço sacralizado da arte como uma galeria dotipo ‘cubo branco’. Conheci o trabalho da Roberta no Festival Paraty em Foco ano passado e amei! Aí voltando de lá, ela passou no Ateliê para conhecer e a gente conversou, fiz o convite”, comenta a fotógrafa que já conhece mais da fotografia paraense.

Patrícia reconhece o forte movimento de fotografia do Pará, segundo ela, muito conhecido e citado no Rio e no Brasil todo. “Já estive em Belém fotografando o Círio e tive o prazer de conhecer o Chikaoka, Paula Sampaio (que me acolheu em sua casa), a Walda Marques, entre outros. Depois conheci o Guy Veloso, que se tornou um grande amigo, o Dirceu Maués, e recentemente a Roberta Carvalho, minha mais nova velha amiga”, finaliza.

Participe!

O Café Fotográfico com participação de Patrícia Gouveia, autora do livro: “Membranas daLuz – Os tempos na imagem contemporânea” é hoje, 30/03, no auditório do IAP, a partir das 18h. Visite também as mostras do III Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia: “Memórias da Imagem”, na Casa das Onze Janelas, até dia 28 de maio, e “Para terde onde se ir”, do artista convidado Miguel Chikaoka, no Museu da UFPA. Tudo com entrada franca.

Para ter de onde se ir

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Fotografia de Miguel Chikaoka que integra a exposição Para ter de onde se ir.

Idealizador da Associação Fotoativa, Miguel Chikaoka estuda e experimenta metodologias na arte-educação direcionada para a atividade fotográfica, em ações que repercutem para além do estado do Pará.  O fotógrafo abre mostra especial dentro da programação do III Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, como artista convidado, hoje, 29 de março, a partir das 19h, no Museu da UFPA, onde ficará aberta ao público até 27 de maio.

“Recortes” e “Pontuações”.  Miguel Chikaoka define assim o resultado de tudo foi discutido para se chegar à montagem da “Para ter de onde se ir”.

A exposição começou a ser idealizada bem antes, ainda em dezembro de 2011, através de longas conversas entre Mariano Klautau Filho, que coordena o Prêmio, e Miguel Chikaoka,  ora por e-mail, ora pessoalmente em horários extra comerciais, devido aos demais compromissos de ambos.

Depois de percorrer inúmeras ideias para a montagem, uma vez que a obra de Miguel é tão vasta quanto diversa, chegou-se à ideia de realizar uma série que representasse todas as facetas do fotógrafo e que ao mesmo tempo fosse um trabalho representativo de seus vários traços, aproveitando material que ainda não tivesse sido mostrado ao público, mas sem que isso se tornasse uma retrospectiva de sua carreira.

“A mostra não se obriga a uma retrospectiva de toda minha carreira. Vamos concentrar na leitura de recortes e pontuações, apontando algumas ‘pegadas’. Afinal, continuo vivo e caminhando…”, disse Miguel à Mariano, em uma das trocas de e-mail que os dois mantiveram.

Para isso foi preciso encontrar, em fotos de diferentes épocas e lugares, um fio condutor que apresente sua característica de fotografia de rua, mas também pensar num conjunto de trabalhos experimentais em pinhole ou similares, feitos ao longo dos processos das oficinas.

Fotografia em cor, imagens noturnas de cidade do interior, além de uma série inédita e recente, além dos “clássicos” em P&B. Pensou-se em tudo isso. O resultado da curadoria acabou trazendo também o nome da exposição, inspirado no poema  “A Cabana”, de Max Martins.

É preciso dizer-lhe que tua casa é segura/ Que há força interior nas vigas do telhado/ E que atravessarás o pântano penetrante e etéreo/ E que tens uma esteira/ E que tua casa não é lugar de ficar/ mas de ter de onde se ir.

“Pensei que as imagens do poema falam de algum modo na errância, nos pontos fixos e móveis da existência. A errância, como poética, acho que dialoga com o recorte que fizemos do teu trabalho e com os teus movimentos em Belém, na fotografia e nas imagens”, comentou Mariano com Miguel, que na hora, topou.

No dia 05 de abril, Miguel bate papo com o público, com mediação de Mariano Klautau Filho e de Joaquim Marçal (RJ).  “Vai ser uma conversa a partir de um breve relato de experiência e do que orienta o meu envolvimento atual com a fotografia”, explica o artista convidado do Prêmio.

Fundador da agência Kamara Kó, na qual desenvolve foto-reportagens e trabalhos de documentação sobre questões sociais e ambientais da Amazônia, atualmente Miguel está empenhado em projetos do Centro Cultural SESC Boulevard e do Núcleo de Formação e Experimentação da Fotoativa, além de continuar participando ativamente das articulações da Rede de Produtores Culturais da Fotografia no Brasil (REDE) e na Amazônia (REDEAMAZONIA).

Em entrevista, ele comenta um pouco mais sobre a sua participação na programação do III Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia e outros aspectos da carreira.

O que é a exposição, depois de todo o planejamento, conversas e definições com o Mariano?

Miguel Chikaoka: É um recorte sobre minha produção autoral ao longo da minha carreira, com a curadoria do Mariano. Nem retrospectiva tampouco uma panorâmica, mas pontuações pinçadas.

O que você pretende encaminhar no bate papo com o público?

Miguel Chikaoka: Vai ser uma conversa a partir de um breve relato de experiência e do que orienta o meu envolvimento atual com a fotografia.

A Fotoativa está próxima de completar 30 anos de fundação. É um sonho teu que continua fluindo e dando bons frutos, desencadeando e evoluindo com o movimento da fotografia paraense. Como você avalia tudo isso?

Miguel Chikaoka: Uma semente precisa de condições favoráveis para germinar e terra fértil para crescer, florescer, dar frutos. Isso que tu chamaste de sonho é uma semente que veio de outras terras, de outras vivências, de construção coletiva pautada no favorecimento ao crescimento individual.

Então, a Fotoativa pode ser vista como algo semelhante, que aqui encontrou ambiente favorável e terra fértil para crescer. Historicamente vejo como herdeira de experiências coletivas anteriores, como o Fotoclube do Pará dos anos 50 e do Fototificina e Fotopará, na primeira metade dos anos 1980.

Apesar do reconhecimento alcançado, acho que há muito o que fazer pela e com a fotografia na região, sobretudo no campo da educação, voltada para formação cidadã e pelo crescimento de uma consciência crítica.

O que caracteriza a fotografia contemporânea? O contemporâneo é definível?

Miguel Chikaoka: Não me preocupo muito com as classificações, mas é certo que estamos vivendo um momento de fluidez, de incertezas. Já faz algum tempo que a fotografia saiu do congelamento para diálogo e fusão com outras linguagens para constituir uma zona híbrida.

Hoje a fotografia deixou de ser uma escrita operada tão e somente com a matéria luz. A fotografia. ao operar com outras fontes luminosas, saiu do estático, da luz fixada, para ganhar novos contornos e movimentos. Acho que ela incorporou a transitóriedade.

Prestigie!

Abertura da mostra “Para Ter de Onde Se Ir”, de Miguel Chikaoka, artista convidado do III Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, hoje, 29 de março, às 19h, no Museu da UFPA. Visitação até 27 de maio.

Artistas selecionados participam da abertura

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Montagem da exposição na Casa das Onze Janelas. Foto: Irene Almeida.

Foram quase 300 inscrições vindas de 18 estados e de mais de 40 cidades do país. O Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, lançado em 2010, chega à sua terceira edição consolidando-se como um grande painel da nova fotografia brasileira. A abertura da mostra, reunindo obras de três artistas premiados e mais vinte selecionados é hoje, 28 de março, a partir das 19h, na Casa das Onze Janelas.

O Prêmio Memórias da Imagem, tema do projeto este ano, ficou com o Coletivo Garapa, de São Paulo. A fotógrafa paulista Ilana Lichtenstein foi contemplada com o Prêmio Diário Contemporâneo e o paraense Lucas Gouvêa, arrebatou o Prêmio Diário do Pará. Eles estarão presentes na cerimônia de abertura, quando receberão prêmios no valor de R$10.000,00, cada.

O Coletivo Garapa apresenta o projeto “Morar”, ensaio visual sobre dois prédios emblemáticos da capital paulista que reflete sobre o tempo da metrópole; Ilana Lichtenstein traz a série “Uma e outra erupção”, que sugere ao observador um percurso de busca íntima; e Lucas Gouvêa exibe o vídeo-fotografia “Spinario”, uma reflexão dialética lançando mão da fotografia e da performance (leia mais sobre os trabalhos vencedores aqui no site).

Artistas participam da abertura – Além dos premiados, estão em Belém fotógrafos e artistas visuais que tiveram obras selecionadas para a exposição. Patrícia Gouvêa e Isabel Löfgren, por exemplo apresentam duas obras, “Rotas de Fuga” e “Lécture sur L’herbe”. A segunda é formada por uma instalação com vídeo e uma fotografia e Rotas é um vídeo em 3 canais.

“Nestes dois trabalhos, realizamos ações efêmeras que reconfiguram o uso do Jardim da República, no Rio de Janeiro, como local de passagem ou de repouso pelos freqüentadores. Ora carregamos e trocamos de mãos uma mala antiga pelas aléias dos jardins, ora permutamos livros retirados desta mesma mala sobre o gramado. A mala é outro elemento importante neste projeto, um receptáculo de memórias, desejos e referências”, explica Patrícia, que está em Belém.

Formada em produção editorial pela ECO-RJ, especialista em fotografia pela UCAM/RJ ela é Mestre em Tecnologias da Imagem e Estética da Imagem, e fundadora-diretora do Ateliê de Imagens Espaço Cultural (RJ), onde está em cartaz a exposição Symbioses, da artista visual paraense Roberta Carvalho, premiada no ano passado pelo salão.

Pedro Hurpia, que também estará na abertura, é Bacharel em Artes Visuais pela Unicamp e com diversos prêmios recebidos em mostras e salões paulistas. “Esta instalação que estou apresentando no Diário Contemporâneo, consiste num resultado de um projeto desenvolvido no programa de residência artística do SÌM – Samband Íslenskra Myndlistarmanna – em Reykjavík, Islândia”.

O artista realizou, durante um mês, um conjunto de imagens na região portuária da capital islandesa e para esta montagem selecionou doze fotografias e sete pinturas que fazem parte desta instalação. “A especificidade da memória embutida no suporte pictórico, em contraponto com a da imagem fotográfica, foi o ponto de partida para este projeto intitulado Harbour View”, diz.

Mais – Outra artista que chegou a Belém para participar da abertura da mostra é Roberta Dabdab, que iniciou a carreira como assistente de fotografia, trabalhando para os principais fotógrafos de moda e publicidade atuantes na época, passando depois para fotojornalista (O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde e Folha de S. Paulo). Foi onde, segundo ela, encontrou um terreno extremamente propício para o desenvolvimento e aprimoramento da linguagem fotográfica.

“Primeiramente, quero elogiar e agradecer os responsáveis pelo Prêmio Diário de Fotografia pela iniciativa singular de proporcionar aos artistas e pensadores a possibilidade de apresentar suas ideias para um público novo, numa experiência, portanto, instigante”, elogia.

A série S/T apresentada pela artista reflete sobre um paradigma novo para a fotografia, o momento em que ela se funde com a imagem digital e mergulha no caldeirão de produção de imagens geradas nesta contemporaneidade.

“Trata-se de uma instalação que busca um entendimento sobre a memória visual adquirida na relação do espectador através das associações entre sua síntese, as fotografias esvaziadas de cenas fotografadas e os textos que narram estas cenas”.

De acordo com ela, a ideia é desautomatizar os olhares e criar uma linguagem capaz de desenvolver uma memória cognitiva a partir das referências de cor e forma. “Isso parte do pressuposto de que com um mundo ‘hiper imagético cheio de informações’ precisamos aprender a reduzir, a buscar sínteses e a nos permitir voltar a exercitar a imaginação. O trabalho opera numa espécie de jogo com imagem e texto”, conclui Roberta.

O paulista Fábio Messias Martins de Souza e Marian Starosta também vieram. Ela, que vem trabalhando com fotografia desde 1982 e com vídeo desde 1985, já foi coordenadora de Artes Visuais na Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre, do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, e já organizou eventos e exposições de arte.

Os demais trabalhos da exposição têm assinaturas de Alberto Bitar (PA), Milla Jung (PR), Coletivo Cêsbixo (PA), Érico Toscano Cavallete (SP), Fabio Okamoto (SP), Fernando Bohrer Schmitt (SP), Gabriela Lissa Sakajiri (SP), Gordana Manic (SP), Isabel Maria Sobreira de Santana Terron (SP), Lívia Afonso de Aquino (SP), Marian Wolff Starosta (RJ), Renato Chalu Pacheco Huhn (PA), Romy Pocztaruk (RS), Tuca Vieira (SP), Vanja von Sek (PA) e Wagner Yoshihiko Okasaki (PA).

Prestigie!

Abertura da mostra Memórias da Imagem, com selecionados e premiados do III Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, hoje, 28 de março, às 19h, no Espaço Cultural Casa das Onze Janelas. Entrada franca.

Experimentação dialética em Spinario

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Quadros do vídeo Spinario, de Lucas Gouvea, Prêmio Diário do Pará de 2012.

Lucas Gouvêa, ganhador do Prêmio Diário do Pará em 2012, é formado em design pelo CEFET, estuda Artes Visuais na UFPA e já teve alguns trabalhos expostos em galerias da cidade de Belém (CCBEU, SESC, Salão da Vida), porém, é fora de todas essas instituições que constrói o trabalho artístico de qual se orgulha em ser autor.

Junto com os outros integrantes do qUALQUER qUOLETIVO vem, desde 2010, executando trabalhos de performance e intervenção em espaços públicos de Belém de forma rizomática, horizontal e descentralizada e também engendrando-se dentro dessas instituições (universidade, galerias) com intuito de desestigmatizá-las enquanto espaço religioso da arte e de pura contemplação, transformando-as em um espaço livre, onde qualquer um pode fazer arte.

“É a primeira vez que me inscrevo no Prêmio Diário e é a primeira vez que ganho um prêmio desta importância”, diz ele, contemplado à premiação dedicada ás produções paraenses.

“Spinario” traz o escuro e a luz. A emoção e a razão. A dor e a felicidade. A fotografia e o vídeo. De acordo com o artista, Spinario é um vídeo-fotografia referencial que se apropria de uma escultura helenística do século I A.C.. Um menino remove espinhos do seu pé, para a construção de um processo audiovisual de depuração da imagem da luz.

“Minha obra cursa uma dialética precisa. É o Analógico e Tecnológico. O fotógrafo e o performer. Da sola dos pés aos mil olhos de Osíris”, diz.

Em sua opinião, nada define a fotografia contemporânea. Por isso resolveu se inscrever no salão de fotografia mesmo não sendo um fotógrafo. “A fotografia hoje em dia define o mais plural significado da reprodutibilidade, se encontra em todos os lugares, nos celulares, nos outdoors, nos documentos, na televisão, nos rituais humanos. E a contemporaneidade está fatalmente ligada ao tempo, todo artista é contemporâneo, ao seu tempo, a sua existência. Talvez o primeiro fotógrafo contemporâneo, tenha sido Platão quando escreveu sua alegoria da caverna”.

Além da universidade da qual faz parte, e de sua produção marginal, se tratando de fotografia e do ensino da mesma, ele diz que já conhece e se relaciona com a cena tradicional da fotografia paraense há alguns anos.

“Editei o vídeo ‘Planeta Pinhole’ em parceria com artistas parceiros e a Fotoativa, para ser lançado no Pinhole Day, onde se encontra um panorama mundial da produção artesanal de fotografia”, exemplifica o artista que no ano passado também editou o catálogo de acervo da galeria KamaraKó, única no norte especializada em fotografia.

“Dentre outros trabalhos, sempre de forma marginal e não fotográfica, sou um apaixonado por fotografia, porém tento enxergá-la muito além do processo químico comum do qual estamos acostumados a lidar, e me vejo dentro dessa cena, como um dos agentes desestabilizadores dessa hegemonia artística tradicional e historicista”, afirma. Para Lucas, que tem trabalhado há anos, rompendo totalmente com essa ideia de seleção e curadoria, o Prêmio Diário veio em boa hora.

“Financeiramente e teoricamente. Dentro do meu processo artístico acadêmico não há momento mais importante do que essa oportunidade pra repensar meu fazer artístico, e minha consciência critica. Boa parte de todo esse processo fará parte do trabalho de conclusão de curso de artes visuais do qual eu me formo esse ano”, encerra.

Para visitar paisagens interiores

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Sem Título #09, imagem da série "Uma e outra erupção", de Ilana Lichtenstein, Prêmio Diário Contemporâneo.
Sem Título #09, imagem da série "Uma e outra erupção", de Ilana Lichtenstein, Prêmio Diário Contemporâneo.

A série “Uma e outra erupção”, da artista Ilana Lichtenstein, Prêmio Diário Contemporâneo em 2012, formou a exposição Casualmente Fotografia, sua e do artista Levan Tsulukidze, na Paradigmas Arte Contemporâneo, em Barcelona – galeria que representa seu trabalho na Espanha, ao lado da Galeria Virgilio no Brasil.

Montada na parede em formato pequeno, com imagens distantes e outras próximas umas das outras, propõe uma aproximação lenta. Nas cenas, paisagens, pessoas e bichos circulam de forma esparsa, como numa densidade de sonho, sem saber ao certo onde estão.

“Da mesma forma, no percurso devagar que é sugerido, a ideia não é que a pessoa descubra os mistérios das fotografias ali presentes – mas sim que tenha acesso às suas paisagens interiores, quer dizer, ao seu próprio acervo de sensações sobre o silêncio, o estranhamento, e assim por diante. Na ordem que lhe for mais propícia”, explica a artista, que nasceu (1986) e vive em São Paulo e estudou na Escola de Comunicações e Artes da USP e na Universidade Paris-Sorbonne, onde desenvolveu uma investigação sobre imagem e memória, sob a orientação de Michel Puech.

Como introduz Ilana, a proposta de “Uma e outra erupção” é convidar a uma aproximação lenta, silenciosa, que tenha a chance de abrir no espectador um espaço para visitar suas “paisagens interiores” – termo presente na obra de Caio Fernando Abreu.

No texto “A memória como coexistência virtual”, Henri Bergson reitera sua tese de que – em tradução livre – “jamais o passado se constituiria se ele não se constituísse primeiro, ao mesmo tempo que ele é presente. (…), se ele não coexistisse com o presente do qual ele é o passado”.

A partir desta ideia, a artista comenta: “Acredito que a fotografia tem um papel na lucidez disto. Quando realizei essas fotografias, tinha em mente as pessoas que não conhecia e iam vê-las: de uma maneira, gerei esse passado coletivo simultaneamente a estar vivendo o tal presente que tanto se diz abrigado no fotograma”.

Ilana, que participa pela primeira vez do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, acredita que a definição de contemporaneidade está justamente no cerne dessa fotografia contemporânea.

“Isso porque ela indica poder ser tudo que o artista considerar como tal para o seu uso e não só diferentes suportes de movimento, volume e etc., como também o próprio conteúdo gerado pela fotografia ‘moderna’ ou ‘clássica’, que pode ser absorvido e vivificado mais uma vez. São camadas que se misturam, somam, não esmagam uma à outra”.

Para ela, o artista pode fazer um trabalho que esteja em sintonia ou semelhança com algo feito cinquenta, cem ou mesmo quinhentos anos atrás. “E ele pode sentir ter uma sensibilidade, uma índole similar, à de certos humanos que viveram em diferentes épocas; e sentir-se conectado à história da arte de forma mais transversal do que linear”, considera.

Iniciativa importante – Para a artista, iniciativas como a do Prêmio Diário dão ao artista um fôlego maior para dar segmento a suas pesquisas. “Algumas vezes os trabalhos ganham arremate final e corpo de reflexão no momento de serem inscritos para o edital, é uma hora em que o artista pára organizar aquele material e torná-lo um envelope, um dossiê. Só isso, já acrescenta bastante à noção sobre o próprio percurso, um instrumento que ajuda a caminhar”.

A fotógrafa acredita que, sendo contemplado, o material tem a chance de ser visto no suporte idealizado por quem o criou – seja em impresso e com molduras, em uma sala de vídeo, etc.

“O que, no caso da fotografia é bem diferente de vê-lo em uma tela de computador ou em uma revista, livro, etc. Cada lugar é um, e esse lugar da Casa das Onze Janelas, ao que parece, é um dos bons. Chegar à outra cidade e espectadores, imprevistos também, pois como eu disse lá no comecinho, se a ideia é propor o acesso a paisagens interiores, as paisagens de cada universo sempre serão diferentes, ainda que a foto vista seja supostamente igual”.

Fotografia paraense – Ilana já conhece o cenário da fotografia paraense e cita o trabalho de Mariano Klautau Filho, curador do Prêmio. “Acho que quando ele conversa com Edward Hopper, William Turner, por exemplo, ilustra muito dessa impressão que mencionei sobre a fotografia contemporânea. Não sinto que Hopper e Turner ficam, em seus trabalhos, à frente ou atrás do tempo, mas todos em um tempo sincrônico, trazidos à tona para uma densidade de semelhantes”. E também elogia a série “Efêmera Paisagem”, de Alberto Bitar, que viu exposta em São Paulo, em uma sala do Centro Universitário Maria Antônia. Mas em outro exemplo de contemporaneidade ela fala de um artista plástico.

“O Osmar Pinheiro, artista muito importante que fundou a Galeria Virgilio, com a qual trabalho, estritamente não foi um fotógrafo, mas nas suas pinturas se vê a fotografia de maneira clara, forte e pulsante. Eu me identifico muito, e é uma obra que, numa visão contemporânea, também poderia estar presente em uma exposição fotográfica com grande ganho para a linguagem”, diz.

Ilana lembra ainda as projeções sobre árvores, de Roberta Carvalho, que ela presenciou no último Paraty em Foco. “Fiquei feliz de conhecer um trabalho que caminha na conjunção entre fotografia e plantas, algo que me interessa bastante”, finaliza.