A imagem que toma posição: saiba mais sobre a mostra na Casa das Onze Janelas

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Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia (DCF) evidencia diálogos sobre temas sociais em obras do acervo e de artistas convidados 

 

Colhedoras de sempre-vivas”, imagem de 2021, do artista convidado João Ripper (RJ)

A imagem narra seu tempo: toma lado, recortada no espaço. E o que dissera antes, se vista e reinterpretada hoje? Obras de artistas da Coleção Diário Contemporâneo de Fotografia (DCF), instituída oficialmente em 2016 mas com obras incorporadas em mais de uma década, foram revisitadas para dialogarem com trabalhos de artistas convidados na mostra “Desejos pessoais, pulsões coletivas: quando as imagens tomam posição” – que inaugura a décima segunda edição este ano. A abertura ocorre nesta terça-feira (5), às 19h, de modo restrito somente para equipe e artistas participantes, no Museu Casa das Onze Janelas, a fim de se evitar aglomerações. O público poderá visitar a mostra a partir desta quarta-feira (6). 

O diálogo inédito entre parte da coleção do DCF que reúne 12 artistas e mais 20 convidados, com curadoria de Alexandre Sequeira, traz provocações sobre temas sociais que incluem o debate de raça, gênero, território, dentre outros, sobretudo do que irrompe a partir da declarada redução de direitos civis em nosso país. “Essa pluralidade de artistas potencializa muito os desdobramentos do diálogo entre as obras”, destaca Sequeira. 

Para o curador, as obras revelam interlocuções de sentimentos que perpassam o Brasil de forma muito contundente, de Norte a Sul, e por isso se evidenciam enquanto aposta de uma abordagem curatorial que contemple diferentes regiões e visões. “Há que se buscar ouvir e ser ouvido numa humanidade que hoje fala por meio de muitas vozes, em uma polifonia harmoniosamente, sem a pretensão de alcançar uma uniformidade, mas com ação recíproca de vários motivos diferentes”, explica. 

“Desejos pessoais, pulsões coletivas” traz, entre os artistas convidados, Marcela Bonfim (RO), que pesquisa a negritude na Amazônia; Yuri Juatama (CE), e seu olhar afetuoso e vibrante sobre a região onde cresceu, na periferia de Fortaleza; Ubiratan Suruí (MS/RO), artista indígena que faz uso de imagens da internet em sua militância; Beatriz Paiva (PA), jovem artista que trabalha com a questão racial e feminismo; Nilmar Lage (MG) e seu trabalho comprometido com pessoas afetadas pelas barragens e mineração; e João Ripper (RJ), um dos nomes mais importante da fotografia humanista no Brasil.

A mostra traz ainda como convidados Alex Oliveira (BA), Ana Mendes (RS/MA), David de Jesus (MG), Erick Peres (RS), Gabriela Massote (RJ), Keyla Sobral (PA), Lau Baldo (RS), Paulo D’Alessandro (SP), Ramon Reis (PA), Roberto Bassul (RJ), Rochelle Costi (RS/SP), Sara não tem nome (MG), Victor Galvão (MG/SP) e Wilka Sales (PA/MA). Da coleção constam obras de  Ana Lira (PE), Daniela Alves e Rafael Andorjan (RJ), Diego Bresani (DF), Geraldo Ramos (PA), Julia Milward (RJ), Marcílio Costa (PA), Mateus Sá (PE), Paula Sampaio (MG/PA), Péricles Mendes (PA), Randolpho Lamonier (MG) e Rodrigo José (PA).

“Em trabalhos como os de João Ripper percebemos causas sensíveis e urgentes, como o registro de comunidades no norte de Minas Gerais que vivem na colheita de flores sempre-vivas. Através dessa documentação, essas comunidades foram reconhecidas e foram premiadas pela ONU. Outro destaque é Rochelle Costi, que já esteve em duas bienais de São Paulo e outras pelo mundo todo, e mostra a vida na Amazônia e seus nativos, uma ode sobre o valor do homem amazônida, seu modo de viver, existir e se relacionar com a natureza”, diz Sequeira.

Frames do vídeo “Circunstâncias”, 2020, de Ramon Reis (PA) – Artista convidado

Diálogos

De acordo com Sequeira, se vistas separadamente como unidade estável, cada obra se apresenta como um universo singular, mas, se compreendida numa relação de diálogo com outras, revela uma estranheza capaz de multiplicar seu próprio aspecto. “É nessa perspectiva, enquanto território de encontro entre diferentes pontos de vista e da garantia do contraditório, que a mostra se oferece”, conta Sequeira, que convida o público a participar deste lúdico jogo de infinitas possibilidades. “Um campo de reflexão capaz de promover um intercâmbio entre diferentes posições e olhares. Uma redisposição que promove múltiplos encontros e novos entendimentos trazidos à tona pelo exercício combinatório”, diz o curador convidado.

Pulsões 

Movido pelo convite proposto por Alexandre Sequeira, Mariano Klautau Filho, curador geral do Diário Contemporâneo de Fotografia, assina também a curadoria da mostra “Pulsões”, que ocupa o Museu da UFPA e será aberta a convidados na quarta-feira (6) e ao público na quinta-feira (7). Ele explica que buscou se concentrar diretamente no caráter pulsional de nossas vidas e dos trabalhos selecionados. “Imagino contribuir com o eixo central da edição como uma resposta, um diálogo, um reflexo visceral ao estado de coisas que nos desafia no Brasil de 2019-2022, sob o comando nefasto e sem paralelo na história do país”, destaca Klautau.

Conceito oriundo da Psicanálise, “pulsão” trata das energias psíquicas internas do ser humano não orientadas pela consciência e que nesta edição está relacionada com os sentimentos que as obras suscitam. “Tendo a ‘pulsão’ como energia interna psíquica não controlada pela razão, faço a seleção de obras que falam de esperança e tensão em relação ao próprio corpo e à própria cidade, e até como manifestação política”, explica Mariano. Da coleção do Prêmio, compõem este eixo obras de Ana Mokarzel (PA), Coletivo Garapa (SP), Flavya Mutran (PA/RS), Hirosuke Kitamura (JP/BA), Jorane Castro (PA), Renan Teles (SP) e Tom Lisboa (PR).

Dos artistas convidados, integraram a mostra também o transe ritualístico na ruína inventada em “Uroboro”, de Denise Gadelha (PA/SP); os retratos noturnos dos marajoaras produzidos por Betania B (PA); a performance de Duda Santana (PA) com retratos que combinam elementos como concreto, folhas e terra; e Victor Galvão (RJ), que volta seu olhar para a cidade em desencanto e transformação. “Pulsões” traz ainda obras de Laiza Ferreira (PA/RN), Melissa Barbery (PA), Patrícia Teles (RJ), Paulo Mendel (RJ/SP) & Vi Grunvald (PA/RS), Randolpho Lamonier (MG) e Waléria Américo (CE).

O DCF é uma realização do jornal Diário do Pará e RBA com patrocínio da Alubar, Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), Sebrae-PA, apoio institucional do Governo do Pará, por meio da Secretaria de Estado de Cultura (Secult) e Sistema Integrado de Museus e Memoriais (SIMM), Museu da Universidade Federal do Pará (MUFPA), e colaboração da Sol Informática.  

Serviço

Mostra Desejos pessoais, pulsões coletivas – Quando as imagens tomam posição
Museu Casa das 11 Janelas – R. Siqueira Mendes, s/n – Cidade Velha
Visitação até 14/11/2021
de terça-feira a domingo, das 9h às 17h
Entrada gratuita às terças-feiras e aos domingos 1kg de alimento não perecível por 4 ingressos. Demais dias: R$ 4, com gratuidade a estudantes, professores, pessoas portadoras de deficiência e crianças até 12 anos

Mostra Pulsões – Diálogos com a coleção DCF
Museu da Universidade Federal do Pará (MUFPA) – Av. Gov. José Malcher, 1192 – Nazaré (entrada pela Av. Generalíssimo Deodoro)
Visitação até 28/11/2021
de terça à sexta-feira, das 9h às 17h – finais de semana e feriados, das 9h às 13h
Entrada gratuita